domingo, 31 de maio de 2009

Para não falar dela - Por Edson Detregiachi


-O piano postava-se frio à sua frente, calado em seu sábio ébano envernizado. A partitura em branco, como era difícil compor sem tê-la ao seu lado, a melodia perdia o brilho extravagante sem seu doce toque desafiador. Ela, agora, compunha sozinha, não precisava mais dele. Ele, agora, pertencia ao nicho profundo de passado do coração daquela com quem antes compartilhara espírito e alma.

Seu companheiro de teclas de marfim permanecia calado, talvez em respeito, talvez em reprovação, jamais saberia. Tocaria partituras antigas, poderiam ajudá-lo a inspirar-se. Haveria a mudança de distanciá-los ainda mais? Ao menos a nova cidade mostrou-se acolhedora com seus ares de aventura. A nova casa era esplêndida, a sala do piano, perfeita. O piso de madeira refletia docemente a luz da manhã que penetrava calma através das amplas janelas brancas, que se abriam para o jardim. E silencioso permanecia o antigo sofá de veludo no canto da sala, no qual ainda a via sentada ao olhar repentino.

O portão da casa mantinha-se sempre aberto, na esperança de que ela viesse e com seu toque mudasse o mundo ao redor. Sabia que ela haveria de voltar, até que um dia ela o fez. Ela veio, com seu estilo atrevido e encantador, e novamente sentou-se no sofá a apreciar suas músicas, bela. E belamente ela retornava, e seu coração enchia-se de uma paz silenciosa e calma, uma paz desconfiada. Seria realmente ela alí naquele sofá?

Como pudera, sua obcessão fizera-o confundir a meiga vizinha com sua antiga e avassaladora paixão. Aquela que, agora, compunha com outro, e não mais com ele. As tardes se passavam rápidas e ternas, era tão bom ter aquela menina ao seu lado, a serenidade e a alegria habitavam novamente em seu ser. Os olhos de carvalho fitavam-no admirados e apaixonados, talvez fossem de cobre, não sabia ao certo.

Não, não poderia enganá-la. Jamais poderia corromper sua alma suave e límpida com a decepção voraz e terrível da qual não conseguiria escapar. Jamais poderia compor com outra, não poderia livrar-se tão facilmente da sombra consumidora da antiga companheira que se deitava em seu peito. Teria que parar, haveria de parar, o que fazer? Talvez o tempo pudesse ajudá-lo, ela compreenderia? Não poderia sabê-lo, mas teria que agir. Trancou a sala do piano, e jurou não abri-la até que seu espirito se renovasse de seu triste passado. Somente o tempo, agora, escreveria nas linhas de seu destino.

Nota: Me surprendi quando entrei aqui e encontrei a continuação ou o final do meu texto ali de baixo. Assim, é surpreendente. Quem escreveu foi um amigo, eterno. Edson. Dou todos os creditor para ele. E fico com a saudade.

2 comentários:

  1. Salvem leitores!

    Após longos anos sem escrever decidi voltar a fazê-lo, e estou reativando meu blog. Não nego, motivou-me principalmente ver o quão produtivo se tornou o blog da Carol, não prometo posts diários como ela, mas quem quiser acompanhar alguns textos e idéias, sinta-se à vontade para conhecer.

    http://detregiachi.spaces.live.com

    Saudações!

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  2. é...as pessoas voltam a ativa neh
    e ainda por cima fazem propaganda no MEU blog!

    ain ain!
    adorooo

    =***

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