sábado, 1 de agosto de 2020

Deixa eu te contar

- Então deixa eu te fazer uma pergunta. Você já sentiu saudades de alguma coisa que nunca viveu? Ou teve a impressão de que já viveu algum momento quando, na verdade, você sabe que não? As vezes isso acontece comigo. As vezes me percebo com saudades de momentos que nem sei descrever. As vezes sinto uma nostalgia. As vezes tenho esses pensamentos de saudades que nem parece que são meus. E em minha mente eu lembro de cenas que sei que nunca vivi. Isso seria estranho de mais para você? Pois é. Para mim também. E eu paro e começo a pensar o que pode ter acontecido para esses pensamentos e sensações começarem. E é difícil encontrar a resposta exata. Mas posso te dizer uma coisa. Acontece quando deixo minha mente viajar, livre e sem amarras. Nos mais inesperados momentos. Ontem, por exemplo, foi no ônibus, na volta para casa. Eu estava ouvindo uma música. Alto de mais em meus ouvidos. E que me trouxe tantas lembranças inesperadas. E tantos sentimentos juntos. Tantas saudades que já conheço. Mas então, teve aquela sensação de nostalgia e saudade que não soube entender. O que seria isso? Da onde vem? Na verdade, esse foi um sentimento que há muito tempo não sentia. Ou que já havia esquecido. Acho que descrever aqui não é possível. Mas, você está entendendo? Acho que não. Foi como se sentir triste de mais e feliz de mais ao mesmo tempo. Foi como ser surpreendido com uma notícia boa e ao mesmo tempo uma ruim. Foi calor e frio. Complicado e simples. Mas foi assim, uma dualidade de sensações. Confesso, derrubei uma lágrima nessa hora. Talvez duas. Enfim, não pude contar. Sei que isso é difícil de entender. Mas veja bem, eu queria mesmo era deixar isso registrado. Contar para alguém. Porque eu não sei bem de onde vem isso. Mas sabe, queria dizer também que ultimamente tenho ficado nesse estado mais reflexivo. E isso intensifica minhas emoções. Mas entender tudo isso talvez não seja necessário agora. Enfim, só queria te contar. Por enquanto, sigo contemplando essas emoções. Sensações. Saudades e sentimentos. Como se observasse pela janela de meus pensamentos. 


sábado, 25 de julho de 2020

Aquela viagem

- Já faz um tempo que estou imersa em meus pensamentos sobre esse assunto. Eu sei que ainda não acabou. Mas já sei que muita coisa mudou. Sim, estou falando dessa viagem que fiz. Dessa viagem que estou vivendo. Na verdade, já fazem 6 meses. Com uma pandemia no meio. Se eu imaginava? Não. Ninguém imaginava. Como poderíamos. Mas não, não estou levando isso em consideração para escrever aqui hoje. Na verdade estou levando em consideração somente os pensamentos que estão em minha mente nesse momento e que já são muitos. E quando eles se acumulam assim, eu preciso escreve-los. E eu sei que ainda não acabou. Mas quero falar hoje do que já aprendi. Do que já vivi. Estar assim longe de tudo o que chamo de rotina, já me fez ver algumas coisas e pensar sobre algumas outras. Me percebi mais. Me senti mais. Passei mais tempo em silêncio olhando e aprendendo. Observando. Percebendo. Na verdade, eu passo muito tempo em silêncio. Em minhas horas vagas, andando e pensando. Estar assim tanto tempo comigo mesma me fez sentir mais. Sentir diferente. Sentir de um jeito que a rotina do dia a dia já não me permitia. Tudo isso me tirou de uma zona de conforto a tempos estabelecia e construída. Uma zona de conforto que, confesso, não queria sair. Ou não achava que seria tão difícil sair. Não era ruim, era somente, confortável. Mas sair assim, mudar assim, ir para tão longe assim trás tantas coisas novas. E muda muita coisa que já estava ali. Acostumado. E passei a sentir tudo diferente. Os sentimentos antigos são mais intensos. Eu eu passei a amar mais. E eu passei a sentir mais saudades. Na verdade, eu passei a sentir mais qualquer coisa. Escutar uma música tem outro significado. Andar pelos caminhos tem outro significado. Sentir o vento, a chuva, os dias passando, tem outro significado. Tudo é novo e antigo ao mesmo tempo. E as sensações são diferentes e são as mesmas. São as antigas sensações intensificadas. Melhoradas. Novas, talvez. Ainda não acabou mas já consigo entender que não posso mais voltar a ser mesma. Ainda não acabou, mas já sei que as mudanças que esse tipo de experiência trás são inevitáveis. Esse tipo de coisa muda internamente tanta coisa. Faz um furacão. Uma bagunça. Deixa tudo a flor da pele. Me fez dar valor a pequenas coisas. Me fez dar valor a coisas antigas. A lembranças, sentimentos, reflexões. Um dia me disseram que a maior mudança "depois dessa viagem" seria em mim. E eu não soube o que isso queria dizer. Agora, mesmo antes de acabar, eu sei. Eu talvez esteja ficando um tanto repetitiva aqui. Porque realmente é difícil de explicar. Nada mudou, mas tudo mudou. Eu ainda sou a mesma. Mas não sou mais. E eu amo ainda as mesmas coisas, pessoas, momentos. Mas de um forma tão diferente. Mas de um forma tão igual. Talvez seja um pouco difícil de escrever. O que eu quero dizer, é que é necessário esse tipo de viagem. É necessário sentir esse choque. Esse baque. Essa mudança. E o que eu quero dizer é que, se houver a oportunidade, vá. Saia. Viaje. Não perca. Não tenha medo. Ou tenha, mas vá assim mesmo. A vida dentro da gente precisa se renovar. O nosso universo pessoal precisa se abrir. Os horizontes aumentar. E você vai saber que pode mais. Que é mais forte. Que consegue mais. E quando eu fecho os olhos, sei que continuo a mesma. E quanto fecho os olhos sei que estou diferente. Enfim, pode ter ficado difícil esse texto cheio de contradições. Mas é difícil explicar o que no momento, só sei sentir. 

sábado, 4 de julho de 2020

Pequenas sensações


- Eu me lembro de entrar no ônibus e ir me sentar no último banco da fileira de trás. Eu me lembro que o calor era sufocante e eu não conhecia a cidade. Tentava me lembrar das explicações que tinham me dado. Onde deveria descer, para deveria onde andar, como contar as ruas que eram mais conhecidas por números ao invés de nomes. Repetia algumas dessas informações em minha mente, mas em questão de minutos já tinha esquecido tudo. Me perdia olhando a cidade pela janela e ouvindo qualquer música que tocava em meu mp3. O caminho até minha casa era um pouco longo. Uma parte de ônibus e uma parte do caminho a pé. Envolvida em meus pensamentos, observava as pessoas entrar e sair do ônibus em suas já tão conhecidas rotinas. E eu, primeira vez em quase tudo naquela semana, tentava fingir que estava acostumada a tudo aquilo, também. Tudo era tão diferente de minha cidade natal. Não reconhecia as ruas, nem as avenidas, nem os lugares que precisava ir. Não sabia os caminhos e os pontos de referência, mas sabia que era questão de tempo aprender. Na verdade, o desejo de sair de casa, morar em outra cidade, fazer faculdade fora e não morar mais com os pais era tanto, que quase não reclamava e quase não ligava para as pequenas dificuldades do dia a dia. Eu tinha na verdade esse desejo de me provar. E estava indo. Entretida com meus pensamentos e com as ruas e avenidas, imaginei nessa hora que havia perdido o ponto em que deveria descer. Tentei reconhecer algo no caminho, mas não foi possível. Nessa época nossos celulares não eram tão bons para indicar caminhos ou rotas, na verdade, o meu era daqueles modelos bem simples. Talvez só fizesse ligação. Neste susto de perder o ponto de descida, apertei o potão de parada para o próximo ponto. Iria ter que descobrir. Desci. Olhei ao redor. Nada além de casas e mais casas. Não vi de imediato nenhum lugar em que pudesse pedir informações. Enfim, fui caminhando até o final da rua. Fora do ônibus uma brisa leve soprava e amenizava um pouco o calor. Tanto que caminhar se tornou agradável. E eu me senti um tanto feliz e livre. Um quarteirão, dois, três. Encontrei um mercearia. Passei na frente. Ensaiei entrar. Ensaiei a frase que iria dizer. Pensei no ponto de referência que iria usar. Entrei. No balcão, um senhor idoso, de barba e cabelos brancos. Olhos simpáticos. Usava uma boina. Tinha uma caneta na orelha. 
- Boa tarde, moça, está precisando de algo?
- Boa tarde, eu gostaria de uma informação, uhm...preciso ir até e Faculdade de Odontologia no centro. Como faço? 
Ele olhou para mim, deu um sorriso daqueles que entendeu tudo e que viu além do que simplesmente pedi. 
- Vou te mostrar - respondeu. 
Saiu para fora, na calçada. Eu sai atrás. Ele apontou pelo caminho que tinha vindo. 
- Siga em frente por essa rua até o final. Vai ter um ponto de ônibus. Passe por ele, atravesse a rua e siga sempre em frente. Logo você vai avistar a Faculdade. 
Terminou com um sorriso. 
- Precisa de mais alguma coisa? 
Eu, pega de surpresa pela gentileza e pela resposta bondosa, agradeci e segui meu caminho. 
Curiosamente eu estava no caminho contrário do que deveria seguir. Andei na direção oposta, e na verdade, não tinha perdido o ponto de descida. Tinha descido antes. Eu me lembro que a caminhada até minha casa foi muito agradável. Consegui encontrar o caminho de volta e ao me aproximar de meu ponto de referência, já sabia que caminho percorrer. Ali era uma área conhecida. Me lembro de chegar em casa com uma sensação de dever cumprido. De ter conseguido resolver um desses pequenos problemas do dia a dia. Sabia que aos poucos tudo se tornaria rotina. Cotidiano. Comum. Ao deixar a mochila em cima de minha nova cama, em minha nova cidade, senti um pequeno orgulho de mim mesma. Na verdade, esse tipo de aventura era o que sempre quis. Naquela época eu não sabia, mas já estava vivendo meu sonho. Naquela época não sabia, mas a cidade da Laranja iria ser minha casa, parte de minha vida e se tornaria mais conhecida do que poderia imaginar. Naquela época, eu ainda não sabia, mas era só o começo de tudo. 

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Um dia, um beijo

Existe alguns momentos em que fecho meus olhos e imagino que beijo você. Aquele beijo que a gente costuma ver no cinema. Nos filmes. A luz perfeita, de um amarelo meio envelhecido de sol a ofuscar a imagem. O céu, de um azul opaco com poucas nuvens. A trilha sonora com alguma música tocando baixo ao fundo para depois ir subindo o volume conforme a cena avança. E eu, de olhos fechados aqui a imaginar esse beijo. Quase posso sentir você, sua lenta aproximação. Te observo afastar de leve uma mecha de meus cabelos que cobre parte de meu rosto, para e em seguida percorre-lo com a ponta de seus dedos. Olhos fixos. Bocas quase juntas. E eu de olhos fechados aqui, no silêncio de meu quarto, quase posso sentir o seu perfume. Sinto a pele de meu rosto quase tocar o seu, e é como se você estivesse aqui. Chego a sentir o sangue correndo nas veias. O bater do coração. O arrepio frio que percorre em linha reta minhas costas. Nesse momento de quase beijo o tempo para e respira fundo, e em seguida prende a respiração. Não escuto mais a música ao fundo. Escuto o silêncio vibrar em meus ouvidos. E nessa hora, somente posso sentir. Se fosse um filme, a luz amarelada ofuscaria a tela. E o beijo aconteceria. E os lábios se uniriam, leve, doce, urgente. E esse beijo, que não é de cinema e só está acontecendo em minha mente, parece enfim, real. O toque dos lábios. O roçar da pele de seu rosto no meu. Os corpos tão próximos agora. Minha mão em seus cabelos. Mas sei que me encontro aqui, de olhos fechados a imaginar tudo isso. É de propósito que demoro um pouco para abrir meus olhos. Eu demoro, e refaço a cena em minha mente. Repito o beijo. E repito. E repito. Com um leve sorriso sonhador nos lábios. E, de repente, como um sopro ou um breve respirar, eu abro meus olhos. Não, você não está aqui. Você pertence aos meus pensamentos. E gosto quando te sinto assim, tão perto de mim. Não, você não está aqui. Mas mesmo assim, eu beijei você.

sábado, 30 de maio de 2020

Não é tempo de respostas


- Tantas palavras passam em meus pensamentos agora. Sempre foi assim. Em alguns momentos as palavras passam tão rápido. Na velocidade da luz. Só que eu consigo ler suas linhas. Consigo entender as frases que elas formam. E são frases corridas, soltas, que muitas vezes não dão um texto. E eu coloco uma música baixinho. E fecho os olhos na tentativa de conseguir lê-las. E eu respiro fundo e deixo minha mente viajar. E tento olhar para dentro. Só que dentro é um turbilhão de palavras e letras. E eu estou acostumada com isso. E na maioria das vezes só deixo com que elas passem, com suas sombras de frente para meus olhos fechados. Dificilmente organizo isso tudo em textos, porque as vezes não fazem sentido. Porque as vezes são palavras soltas e pensamentos aleatórios. Mas hoje, comecei a pensar que algumas frases soltas faziam algum sentido quando juntas. Mas hoje, desacelerei o pensamento. Mas hoje respirei fundo, sentei aqui. E o som distante da música tocando me fez ver que precisava escrever hoje. Só hoje. Só essas palavras. Acredito que por esses tempos é mais comum olhar para dentro, ao invés de para fora. Até porque em alguns momentos olhar para fora não faz muito sentido. Acredito que nesses tempos querer respostas não faça muito sentido. Faz mais sentido fazer perguntas. Ou não faze-las. Ou se manter em silêncio. Acredito que nesses tempo as palavras dentro de mim estão com mais urgência de sair. E elas cobram que eu as coloque para fora. Mesmo que muitas vezes elas não façam sentido juntas. E o que elas me dizem? Elas me lembram de um tempo que já foi. Elas me trazem de volta o silêncio de minha mesa de estudo no quintal de minha casa da adolescência. Elas me mostram os tantos e tantos cadernos que já risquei com toda a poesia que achava que tinha. Elas me lembram de cheiros, de ruídos, de frases ditas, de frases lidas, de um pôr do sol em minha antiga cidade. Elas me lembram do passado. Talvez porque, ultimamente, o passado é a única certeza que tenho. De coisas já feitas, de coisas já vividas, de coisas que aconteceram e de perguntas que foram respondidas. E é bom ficar por lá as vezes. É bom ouvir no fundo de meus pensamentos essas palavras sendo lidas. E quando fecho os olhos posso até sentir o antigo vento em meu rosto. Posso até sentir o antigo sol em minha pele. Posso até ouvir o som de palavras sendo ditas e músicas sendo tocadas. Tudo junto as vezes, em um furação de sentimentos. Porque o passado já aconteceu, porque o passado é uma certeza. Porque o passado é ambiente seguro. E quando abro os olhos, percebo que depois de tudo isso, estou encarando o presente. Estou de olhos abertos a olhar para frente. Estou aqui. Estou aqui. E o que isso me diz? Me diz que mesmo não tendo respostas, o melhor é manter os olhos fixos no horizonte. O melhor é sentir o vento no rosto hoje. O melhor é sentir esse sol fraco a bater em minha pele. O melhor é caminhar, só por hoje. Porque, agora não são tempos de respostas. Porque agora, são tempos de perguntas. 

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Um café e algumas palavras

- Esse blog é história. Histórico. Um marco. Uma lembrança. Uma parte de minha vida. Ele começou 10 anos atrás depois que uma professora de redação me disse, no cursinho, que eu não escrevia bem o bastante. E não mesmo. Vestibular é cheio de regras, normas, métricas. E eu queria algo mais livre. Comecei então, por aqui. Tinha tanta coisa escrita no papel. Tinha tanta coisa escrita em meus pensamentos. Tinha tantas palavras acumuladas. E ao longo dos anos elas foram sendo escritas e escritas. Assim as histórias foram contadas, as palavras acumuladas foram preenchendo esse espaço antes vazio e agora, 10 anos depois ele está cheio. Cheio de histórias, cheio de impressões, cheio de coisas que um dia vivi, sonhei, imaginei, presenciei, vi, ouvi. Enchi esse lugar de mim. De tudo que tinha dentro de mim. De tudo que um dia queria dizer e não disse. De tudo que um dia senti. De tudo que um dia quis dizer a alguém e de tudo o que não quis dizer também e quis escrever. Escrever sempre foi parte de mim. Escrever sempre foi um escape, uma terapia, um desabafo. Mesmo que os escritos ficassem escondidos, fechados no antigo diário na última gaveta de meu armário na antiga casa de meus pais. Escrever sempre me fez ser quem eu sou. Escrever na verdade é um ato de coragem. Foi para mim no primeiro ano. Porque era a primeira vez que escrevia de forma aberta. E com o tempo a experiência se tornou libertadora. Toda vez que pensava algo, imaginava algo, via algo, queria dizer algo eu vinha até aqui, pensava em um título e escrevia. E deu certo por tantos anos. E dá certo até hoje. Mas hoje, 10 anos depois, percorrendo essas páginas percebi o quanto o tempo passou, percebi o quanto amadureci, o quanto vi da vida, o quanto vivi da vida. Passaram-se os dramas, alguns dilemas. Alguns caminhos já não são mais possíveis percorrer. Algumas histórias já ganharam um ponto final muito tempo atrás. Só que tudo isso está aqui. Registrado. Imutável e quieto. Esperando. Parado e imóvel. E hoje eu volto aqui, 10 anos depois e me espanto com tudo que eu um dia fui capaz de escrever. E hoje eu me surpreendo com a qualidade de alguns textos. E hoje eu revivi minha própria história que está toda contada nessas páginas. Nem tudo é real. Nem tudo é inventado. Não vou dizer a diferença. Nem tudo realmente aconteceu. Nem tudo realmente foi como está escrito. Mas não posso dizer a diferença. O que posso dizer é que essas páginas são partes da minha vida. Nessas páginas contém histórias. Contos. Pensamentos. Acontecimentos. E eu sentada aqui hoje, lendo tudo o que um dia foi escrito, só consigo pensar que a minha melhor ideia foi tomar um café para acompanhar. Me enchi de mim mesma. Me lembrei de mim mesma. Revivi minha própria vida. No fim, uma xícara de café e algumas palavras. No fim, digo, se chegou até aqui, leia-me. Porque estou de volta.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Para falar de mim, novamente

- Há algumas semanas atrás eu fiz aniversário. Em meio a essa discussão toda de eleições e polarização dos eleitores, eu fiz aniversário. E todo esse contexto me fez pensar no quanto mudei nesses anos vividos. Claro, acho ótimo mudar de ideia, ainda mais relacionada ao amadurecimento, e nesses 30 anos pude viver muitas coisas. Talvez todas que a Carolina adolescente de 15 anos queria. Sai de Marília, minha cidade natal, fiz uma universidade pública, morei sozinha em 3 cidades diferentes, até que voltei para a primeira delas em 2016. Fiz estágio em uma grande empresa do ramo de medicamentos genéricos, fui professora de um cursinho popular, viajei para várias cidades. Tenho um amigo/companheiro/amor/namorado/noivo para toda vida. E hoje faço o que sempre sonhei, desde criança, faço pesquisa. Na verdade, faço doutorado e tento fazer pesquisa, mas isso já me deixa muito feliz e realizada. Com aquela sensação de ter chegado onde queria, e com aquela outra, de ainda tem um longo caminho pela frente. Se pudesse ter uma conversa com a Carolina de 15 anos diria que ela ia chegar exatamente onde sonhou, nem um passo a menos, mas sim com muitas coisas a mais. Diria para ela ir em frente sem medo e com um pouco mais de certeza, diria que tudo iria mesmo acontecer na hora certa e no tempo certo, diria para ela segurar um pouco mais a ansiedade. Diria para ela ter um pouco mais de fé. Que eu sei que ela sempre teve, e que eu sempre tenho. O que me trouxe até aqui, na verdade, foi ter esse pouco de fé. Foi acreditar um pouco em mim e não ter nada de certeza mas mesmo assim, ir em frente. Mas, tem uma coisa que não diria para a Carolina de 15 anos, até porque ela não iria acreditar em mim. Não diria o tanto que ela iria mudar. Não diria o tanto de coisa que ela ia ver, para mudar. Não diria o tanto de realidades diferentes e bem mais duras que a dela, e que ela teria contato, para sim, depois de ver tanto, mudar. Não mudar a personalidade, não mudar a essência de "ser Carolina", mas pensar um pouco diferente, pensar um pouco fora da "bolha", na verdade, pensar muito fora da "bolha". Eu sai de uma cidade no interior do estado de São Paulo, não viajei o mundo, mas conheci algumas cidades por aí. Não tive grandes contatos com outras culturas, mas conheci gente de todos os tipos. E não precisei ir muito longe para isso. Talvez, seja por todo esse contexto dos dias atuais, como as eleições, que me fez pensar e querer escrever esse texto nesse blog velho e antigo. Perceber que talvez eu, se não tivesse passado por tudo isso que passei, eu hoje com 30 anos, seria uma pessoa que votaria de uma forma diferente. Seria uma pessoa fechada em minha "bolha" de minha cidade no interior. São nossas vivências que nos fazem amadurecer, é o que vivemos e vimos que nos fazem moldar quem seremos, são nossas escolhas quando estamos sozinhos, são nossos pensamentos quando estamos sozinhos, são nossas ações quando ninguém está vendo. E após passar por tudo o que já disse aqui, eu não poderia ser diferente. Não poderia pensar diferente. A Carolina do passado já era muito humana, muito com esse desejo de cuidar, tanto é que fez um curso na área da saúde. E essa Carolina de hoje só intensificou mais isso. Como ser contra as pessoas? Qualquer uma delas. Como ser contra a educação? Como ser contra a ciência? Como ser contra quem mais precisa de você? Como não pensar em servir, sendo cristão? E como não ver que se está indo contra tudo isso? Como...

Eu não consigo. Então, nesse mês em que fiz aniversário, nesse mês que fiz 30 anos, assumi que não teria como eu ser diferente do que sou. E que vou continuar sendo. Sempre que possível. Mas, a atual situação, me dá um pouco de medo do que possa vir a acontecer. No mais, o que me resta, é ter fé. Essa pouca fé. E tentar torna-lá uma grande fé. Os próximos tempos precisam. Eu preciso. Nós todos precisamos.

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