sábado, 30 de maio de 2020

Não é tempo de respostas


- Tantas palavras passam em meus pensamentos agora. Sempre foi assim. Em alguns momentos as palavras passam tão rápido. Na velocidade da luz. Só que eu consigo ler suas linhas. Consigo entender as frases que elas formam. E são frases corridas, soltas, que muitas vezes não dão um texto. E eu coloco uma música baixinho. E fecho os olhos na tentativa de conseguir lê-las. E eu respiro fundo e deixo minha mente viajar. E tento olhar para dentro. Só que dentro é um turbilhão de palavras e letras. E eu estou acostumada com isso. E na maioria das vezes só deixo com que elas passem, com suas sombras de frente para meus olhos fechados. Dificilmente organizo isso tudo em textos, porque as vezes não fazem sentido. Porque as vezes são palavras soltas e pensamentos aleatórios. Mas hoje, comecei a pensar que algumas frases soltas faziam algum sentido quando juntas. Mas hoje, desacelerei o pensamento. Mas hoje respirei fundo, sentei aqui. E o som distante da música tocando me fez ver que precisava escrever hoje. Só hoje. Só essas palavras. Acredito que por esses tempos é mais comum olhar para dentro, ao invés de para fora. Até porque em alguns momentos olhar para fora não faz muito sentido. Acredito que nesses tempos querer respostas não faça muito sentido. Faz mais sentido fazer perguntas. Ou não faze-las. Ou se manter em silêncio. Acredito que nesses tempo as palavras dentro de mim estão com mais urgência de sair. E elas cobram que eu as coloque para fora. Mesmo que muitas vezes elas não façam sentido juntas. E o que elas me dizem? Elas me lembram de um tempo que já foi. Elas me trazem de volta o silêncio de minha mesa de estudo no quintal de minha casa da adolescência. Elas me mostram os tantos e tantos cadernos que já risquei com toda a poesia que achava que tinha. Elas me lembram de cheiros, de ruídos, de frases ditas, de frases lidas, de um pôr do sol em minha antiga cidade. Elas me lembram do passado. Talvez porque, ultimamente, o passado é a única certeza que tenho. De coisas já feitas, de coisas já vividas, de coisas que aconteceram e de perguntas que foram respondidas. E é bom ficar por lá as vezes. É bom ouvir no fundo de meus pensamentos essas palavras sendo lidas. E quando fecho os olhos posso até sentir o antigo vento em meu rosto. Posso até sentir o antigo sol em minha pele. Posso até ouvir o som de palavras sendo ditas e músicas sendo tocadas. Tudo junto as vezes, em um furação de sentimentos. Porque o passado já aconteceu, porque o passado é uma certeza. Porque o passado é ambiente seguro. E quando abro os olhos, percebo que depois de tudo isso, estou encarando o presente. Estou de olhos abertos a olhar para frente. Estou aqui. Estou aqui. E o que isso me diz? Me diz que mesmo não tendo respostas, o melhor é manter os olhos fixos no horizonte. O melhor é sentir o vento no rosto hoje. O melhor é sentir esse sol fraco a bater em minha pele. O melhor é caminhar, só por hoje. Porque, agora não são tempos de respostas. Porque agora, são tempos de perguntas. 

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