sábado, 20 de março de 2010

Duplas


-Mariana esperava no saguão do aeroporto. Faltava mais de meia hora para o vôo e o tempo se arrastava pelo relógio. Mariana olhava para a porta de entrada, teve algumas lembranas, alguns pensamentos que logo afastou. Mandou para longe. Ah, amor. Era amor. Mariana sabia. Só que como era típico e constante, a pessoa que ela amava não sabia disso. Apesar de estar escrito em seus olhos, em seu rosto, sorriso e gestos. Claro. Transparente. Pelo menos para Mariana. E ela tinha resolvido contar. Declarar. Só que o destino não foi tão gentil assim. Ou foi. Mariana iria embora. Viajar para o exterior. Terminar sua formação. Ela iria, e tudo aqui ficaria. Seu amor ficaria. Olhou ansiosamente pela porta de entrada esperando aquelas cenas cinematográficas. Esperava que ele entrasse correndo pela porta, a tomasse nos braços, a beijasse. Ah sim! Sonhar! Mariana afastou novamente a lembrança. A vida já havia provado para ela que não era (mas talvez se parecesse) com filmes. Nada de ilusões. Fechou o livro que lia. Levantou, conferiu a bagagem. Tudo ali. Caminhou para a escada rolante no momento em que a voz metálica chamava para o embarque. Olhou para a porta de entrada mais uma vez. Sorriu desconsolada. Subiu no primeiro degrau e se deixou levar. Iria finalmente. O amor iria com ela.

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-Fernando acordou estranho naquele domingo. Com uma sensação de perda. Só que não sabia bem do que. Levantou e abriu a janela. Mais um dia frio e nublado. Ele odiava o frio, preferia o sol, o calor. Alguém, não se lembrava quem, havia dito uma vez exatamente o contrário. Que preferia o frio. Ele se sentia estranho, o sentimento de perda não o largava e agora, não conseguia lembrar dessa pessoa. Foi até a cozinha, pensou em fazer café mas preferiu chá. Levou a caneca até a sala e ligou a televisão. Nada. Resolveu voltar para a cama. Deitou entre as cobertas sentindo falta de alguém, de alguma coisa. Resmungou e virou e lado. Olhou diretamente para o calendário na porta. Tinha um dia, o de hoje, todo pintado e escrito. Levantou para ler o que era. Viu "Minha viagem - Mariana" . Lembrou. Como uma enxurrada de lembranças, de momentos, uma reviravolta de cores e sentimentos. Lembrou. Era Mariana. Ela que gostava do frio, ela que preferia chá, ela que havia escrito em seu calendário. Era Mariana de quem ele sentia tanta falta. Era Mariana. Fernando teve segundos para pensar. Mariana iria embora. Ele se sentia estranho. Sentia falta. Não poderia ser... . Resolveu arriscar. Teve meio segundo para se vestir. E teve um quarto de segundo para chegar ao aeroporto. Entrou correndo pela porta da frente. Nada. Viu Mariana no alto da escada rolante. Gritou. Ela se virou e sorriu para ele. Fernando teve certeza. Sim, amor.

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