quarta-feira, 31 de março de 2010
Era um amor
-Oi!
-Oi, tudo bem com você?! Quanto tempo não...
-Sim, dois anos e...
-Dois anos e seis meses.
-Isso!
...
-Mas, que bom te ver, como está bonita! Diferente!
-É dei uma mudada no cabelo. Olha você notou, antes não notaria.
-Ah, antes eu não era tanta coisa, mas agora sou.
-Mudou foi.
-Verdade.
...
-Você está bonito também! Mas esses olhos, olhe para mim deixe-me ver o que é.
-Não é nada. São somente os mesmos olhos...
Ele escondou o olhar, mas ela desconfiada procurou e insistiu.
-Mas eu vi alguma coisa neles, uma sombra tive a impressão.
-Impressão somente...
-Poder ser, parece que nem te conheço mais.
-Parece que ainda te conheço tão bem.
...
Silêncio. Foi a vez dela esconder o olhar. O barulho da rua chegava até eles, buzinas, pneus no asfalto, ao redor pessoas passando e conversando ao celular e eles ali. Dois estranhos agora, depois de terem divido tudo. Ela olhou o relógio de pulso.
-Olha estou atrasada, preciso ir andando.
-Ah sim, não queria tomar seu tempo, chamei porque achei que seria bom te ver.
-Isso, sem problemas!
-E foi bom me ver?
-Olha tenho que ir.
E se foi. Andando apressada no meio de tanta gente, no meio de toda aquela bagunça. Sumiu na esquina próxima. Quanta indiferença.
E ele ficou ali. Com gosto de partida na boca mais uma vez. Com os olhos cobertos pela sombra da solidão. Com os pedaços do coração nas mãos. Olhou para o fim da rua. Ainda podia vê-la sorrir. Percebeu que o celular estava tocando.
-Alô? Sim, estou quase chegando. Dez minutos ok?
Era o mundo real chamando. Ele teria que voltar para o trabalho. Olhou mais uma vez o fim da rua. Imaginou ela voltando correndo e pulando em seus braços. Mas só imaginou. Tinha que ir trabalhar. Amanhã, naquela mesma hora ele estaria ali de novo. Só para poder ver ela passar. Mais uma vez.
domingo, 28 de março de 2010
Astrolábio
-Mudanças. Eu costumava odiar mudanças. Costumava ficar nervosa, brava, perdida até mesmo quando mudavam a disposição dos meus móveis. Costumava. Agora, não costumo mais. A vida prova por "A" mais "B" que mudar é preciso. Assim como o poeta dizia de navegar. Mudar faz parte de todo processo vivo, de toda dinâmica de qualquer ser que more nesse planeta ou até em outro. E eu já mudei bastante. E agora, mudarei novamente. Tanto no sentido físico, quanto no sentido abstrato da palavra eu mudei. Meu jeito de agir, meu jeito de pensar agora é outro. Amadureci. Aprendi. Mudei. E devido a tudo isso, tive que sair de onde estava. Ir para outro lugar. Ganhar espaço. Ganhar horizontes. E eu fui. Outro estado. Outra cidade. Universitária. Foram quase três semanas de adaptações. Pessoas. Idéias. Afinidades. Saber se localizar. Saber onde ir. Saber com quem ir. Como lidar com tudo isso. Me enchi de medo. Me enchi de dúvidas. Que aos poucos foram sido respondidas, e que aos poucos fui enfrentando com coragem (é foi isso, não existe outra palavra, coragem). É normal temer o desconhecido. O escuro. Só que com o tempo as luzes foram se acendendo. Quase tudo já estava certo. Organizado. Rotineiro. Quando eu recebo a notícia que mudaria tudo de novo. Chamada em outra faculdade, outra cidade, meu estado. Tive minutos para pensar. E muito tempo para ter receios. Eu vou. Vou mudar de novo. Justo eu que não gostava de mudanças. E fui. Não há como voltar atrás. A bagagem já fez o trajeto Maringá-Marília-Araraquara. Eu já me decidi. Não tem como saber o dia de amanhã mesmo. Será que alguém já acordou em um lugar, passou a tarde em outro e finalmente a semana seguinte em alguma cidade totalmente nova? Eu irei fazer isso, amanhã. Deixei muita coisa para trás. Amizades espetaculares. Uma cidade maravilhosa. Um amor incompleto e indeciso. Só que vou começar de novo. Quem sabe não encontrei amizades fantásticas, uma cidade incrível e um amor, assim, por inteiro? Espero que sim. Peço que sim. No final de tudo isso, sei que mudanças acontecem como o vento. Que leva e que trás tudo, na ordem que quiser. Não quero bússola, não quero mapa, não quero parar para pedir informação. Quero ir exatamente para onde tenho que ir. E isso quem vai definir não sou eu. Pelo menos não eu sozinha. Tem alguém lá em cima que navega meu barco. E navegar é preciso. Assim como mudar.
sexta-feira, 26 de março de 2010
Linha a linha
-Eu sou transparente assim. Todo reflexo de mim está por todas essas palavras. Texto a texto eu vou me relevando. Me despindo. Me contando. Sem querer eu fiz de minhas palavras espelhos. De meus textos minha vida completa. Meu eu aqui, transformado em letras. E quando há papel em tinta. Não era a intenção. Só queria livrar de mim tudo isso que pesava aqui dentro. Só queria misturar minhas realidades com minhas fantasias. Mas fui descoberta. Um bom leitor e um amigo observador e também poeta, simples assim, me desmascararam. E não há dúvida. Eu estou por tudo por aqui. Eu estou em cada respirada desse lugar (se é que pode-se chamar de lugar). Deu medo. Confesso. Saber que minha vida está assim, livro aberto. História minha, pessoal e contata por mim mesma. Livre e espontânea vontade. Deu medo, somente porque de uma hora para outra me dei conta que meus segredos foram revelados. Que para me conhecer, basta me ler. Que para cada texto há algo por trás que reflete o que vi, o que vivi, o que senti. Depois deu vergonha. Ficar expondo a vida assim. E já disse algo sobre isso em algum dos meus textos mais antigos. Não penso em parar. Penso em ser talvez menos transparente. Em ser menos óbvia. Em ser mais discreta. Mas, talvez, perderia toda a graça. Talvez ficaria impessoal de mais. Eu faço simplesmente aquilo que sinto. E escrevo aquilo que sinto. E tudo isso são minhas verdades. Medo, sim. Vergonha, sim. Mas, orgulho. De ter coragem para fazer isso. De abrir meu livro e eu mesma contar minha história. Só resta um aviso final. Leia-me.
terça-feira, 23 de março de 2010
Dias de chuva
sábado, 20 de março de 2010
Duplas
-Mariana esperava no saguão do aeroporto. Faltava mais de meia hora para o vôo e o tempo se arrastava pelo relógio. Mariana olhava para a porta de entrada, teve algumas lembranas, alguns pensamentos que logo afastou. Mandou para longe. Ah, amor. Era amor. Mariana sabia. Só que como era típico e constante, a pessoa que ela amava não sabia disso. Apesar de estar escrito em seus olhos, em seu rosto, sorriso e gestos. Claro. Transparente. Pelo menos para Mariana. E ela tinha resolvido contar. Declarar. Só que o destino não foi tão gentil assim. Ou foi. Mariana iria embora. Viajar para o exterior. Terminar sua formação. Ela iria, e tudo aqui ficaria. Seu amor ficaria. Olhou ansiosamente pela porta de entrada esperando aquelas cenas cinematográficas. Esperava que ele entrasse correndo pela porta, a tomasse nos braços, a beijasse. Ah sim! Sonhar! Mariana afastou novamente a lembrança. A vida já havia provado para ela que não era (mas talvez se parecesse) com filmes. Nada de ilusões. Fechou o livro que lia. Levantou, conferiu a bagagem. Tudo ali. Caminhou para a escada rolante no momento em que a voz metálica chamava para o embarque. Olhou para a porta de entrada mais uma vez. Sorriu desconsolada. Subiu no primeiro degrau e se deixou levar. Iria finalmente. O amor iria com ela.
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-Fernando acordou estranho naquele domingo. Com uma sensação de perda. Só que não sabia bem do que. Levantou e abriu a janela. Mais um dia frio e nublado. Ele odiava o frio, preferia o sol, o calor. Alguém, não se lembrava quem, havia dito uma vez exatamente o contrário. Que preferia o frio. Ele se sentia estranho, o sentimento de perda não o largava e agora, não conseguia lembrar dessa pessoa. Foi até a cozinha, pensou em fazer café mas preferiu chá. Levou a caneca até a sala e ligou a televisão. Nada. Resolveu voltar para a cama. Deitou entre as cobertas sentindo falta de alguém, de alguma coisa. Resmungou e virou e lado. Olhou diretamente para o calendário na porta. Tinha um dia, o de hoje, todo pintado e escrito. Levantou para ler o que era. Viu "Minha viagem - Mariana" . Lembrou. Como uma enxurrada de lembranças, de momentos, uma reviravolta de cores e sentimentos. Lembrou. Era Mariana. Ela que gostava do frio, ela que preferia chá, ela que havia escrito em seu calendário. Era Mariana de quem ele sentia tanta falta. Era Mariana. Fernando teve segundos para pensar. Mariana iria embora. Ele se sentia estranho. Sentia falta. Não poderia ser... . Resolveu arriscar. Teve meio segundo para se vestir. E teve um quarto de segundo para chegar ao aeroporto. Entrou correndo pela porta da frente. Nada. Viu Mariana no alto da escada rolante. Gritou. Ela se virou e sorriu para ele. Fernando teve certeza. Sim, amor.
terça-feira, 16 de março de 2010
Percepções
-As luzes se apagaram. Somente as estrelas brilhavam na noite escura e quente. E as pessoas dançavam, mesmo no escuro, mesmo sem se enxergarem, mesmo sem se olharem nos olhos. E ela estava ali, no meio de tantos mas sozinha. Sorrindo para tantos mas o vazio de dentro era enorme. Aquele não era seu lugar. Aquele não era onde queria estar. Sentia falta da sensibilidade nas pessoas, do propósito, dos objetivos. Queria que alguém - não atolado nessa massa que dançava mecanicamente - olhasse para ela, desse um abraço, um sorriso, disesse que ela não estava sozinha. Que não era a única. Mas estava escuro e ninguém via ninguém. Estava escuro e ninguém via seus olhos escondidos no mar de tantos olhos perdidos. Estava escuro e ninguém viu quando suas lágrimas escorreram já secas. Era uma noite quente.
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Para não ficar clichê, não vou falar de luz no fim do túnel (Ops, já falei). Quem sabe em uma luz bem na entrada do túnel. Seria diferente. Seria surpreendente. Mas será que seria impossível?
sábado, 13 de março de 2010
Eu em você
sexta-feira, 12 de março de 2010
Aquela história
segunda-feira, 8 de março de 2010
Conforto
quinta-feira, 4 de março de 2010
Por aqui
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Obs 1 : continuo me surpreendendo com as pessoas maravilhosas que encontro pelo meu caminho.
Obs 2 : Fernando Pessoa explica
"Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?
Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?
Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram.
Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti."