sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Quando tudo se torna inesplicável


Relâmpagos riscavam a noite escura. Suas luzes ofuscantes penetravam pelo vidro das janelas da mansão, projetando sombras agourentas nas paredes dos corredores desertos. A família Vandergate dormia profundamente, cada um em seu quarto, presos em pesadelos particulares. O único som era o da chuva torrencial caindo lá fora. E só.
À meia-noite em ponto, o antigo relógio empoeirado da vasta sala de visitas disparou suas doze badaladas, cujo som grave e longo repercutiu pela casa como um lamento triste e distante. Ao soar da décima segunda nota, o silencio que se seguiu foi imediatamente rompido por uma estrondosa batida na porta da frente.
BAM!
Os escuros olhos de Alfred Owl Stewart, velho mordomo da mansão Vandergate, abriram-se no mesmo instante. O senhor cadavérico de setenta anos nunca dormia, sempre estava atento ao mais ínfimo barulho noturno. Por causa disso, seu patrão milionário, James Johan Vandergate, o apelidara de sua "Coruja de Guarda". Alfred odiava tal apelido. Afinal, ele odiava todas as coisas daquela casa, principalmente os nojentos patrões. Mas isso não importava agora.
Desleixadamente vestido, mas ainda sim apresentável, o criado mal-encarado deslizava com rapidez pelos corredores escuros segurando um candelabro aceso em uma mão ossuda e um pesado molho de chaves na outra. Em sua mente, ele amaldiçoava veementemente a pessoa que estava batendo uma hora daquelas.
- E quem tem que ir atender? – Resmungava ele, sua voz aguda ecoando nas paredes. – Sempre o mordomo, sempre o criado! Vida maldita essa minha.
Praguejando, destrancou as sete trancas da alta porta de carvalho, que precisavam de sete chaves diferentes do molho. Aprumando-se, ele girou a maçaneta e puxou a porta.
- Pois não? O que você quer aqui?
Para seu espanto, não havia ninguém do outro lado na noite chuvosa. Apenas água e trevas. Isso o deixou profundamente irritado, muito mais do que já estava. Ele não era pago para aturar criancices.
- Vão pro Inferno! – berrou para a noite.
Quando se preparava para fechar a porta e voltar para sua cama quente em seu quartinho apertado, entretanto, ele ouviu algo que o fez empalidecer feito cera e congelar exatamente onde estava, incapaz de se mover.
Um grito. Longo, rouco e horrivelmente choroso como o vento. Um lamento agonizante arrancado do âmago de uma alma solitária, que ecoou na madrugada pelos imensos campos de colinas. Indescritível, sobrenatural. O ambiente ao redor ficou frio e sem vida. E então, o silêncio caiu mortal nas planícies.
Nota: Um toque de mistério...mas a história continua. Eu escrevo a continuação. A primeira parte é do Pedro Carlos, amigo querido! O aniversário dele é amanhã resolvi postar para uma homenagem, quem sabe um presente!

2 comentários:

  1. Um presente pelo qual sou muito grato. Carol, adorei ver minha história aqui, no seu blog. Fico muito feliz por ter uma amiga como você, viu. Muito obrigado.

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  2. Obs.: Adorei a foto. É incrivel como você tem os olhos certos para as ilustraçoes sobre aquilo que você escreve. Admirável. Aguardando o fim ansiosamente.

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