sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Cartas para mim


-Eu sonhei que recebia cartas. Cartas de alguém distante, cartas de alguém que eu não conhecia. E essas cartas eram tão bonitas, tão bem escritas, com linhas e linhas de uma caligrafia floreada e antiga feitas no papel fino com uma caneta fina. Eram cartas de amor. Juras de amor eterno para alguma donzela esquecida em um passado que não conheço, que ninguém conhece. Mas as palavras, o estilo, o romantismo de se mandar cartas em uma época que prevalece e-mails, me tocava, me emocionava e eu queria a todo custo encontrar o dono de tais palavras. As mãos que permitiam formar a bela caligrafia. E procurava, escrevendo para o mesmo endereço, mas não vinham as respostas, somente mais cartas, mais juras de amor, mais promessas de um amor eterno que superaria todas as barreiras. Sem assinaturas, sem nome do remetente. Somente destinatário. Somente meu nome, meu endereço, somente a mesma despedida em todas elas. "Daquele que te ama". Como poderia essas cartas me encontrar? Como poderia essas cartas serem para mim? Quem seria o autor? Quem seria... . E eu ficava perturbada por não saber, por procurar e não encontrar que, em meu sonho, passei a não abrir mais as cartas. E mesmo assim elas continuavam a chegar. Como se as palavras não pudessem acabar, como se houvesse um estoque inesgotável de papéis, de canetas, e de selos. Os dias passavam, e a quantidade de cartas aumentava. E eu não abria, não lia, não respondia. Até que finalmente elas pararam. E por dias eu sinti falta dos papéis, da caligrafia, da letra. Mas me tranquilizava por não ser alvo de uma amor que não existia, que não poderia existir. Não no século XXI. No fundo do meu ser eu queria que alguém tocasse a campanhia e dissese que era o autor das cartas, que viera me buscar, para viver comigo até o fim dos tempos. Impossível. Ilusão. Tudo o que existia era somente cartas, e palavras, que na maioria das vezes se tornavam vazias pela falta de algo concreto a que pudesse relaciona-las. E eu acordei desse sonho inquieta. Impressionada. Acordei desse sonho e vim até aqui escrever sobre o que vi, o que meu interior me mostrou como um filme. E agora que faço de minhas próprias palavras linhas, percebi -como de súbita compreensão- que eu era a donzela, que há séculos atrás figiu e deixou para sempre o príncipe que ainda procura por mim. Separados por anos, por décadas, por séculos. Ele ainda escreve. Me procurando. E um dia ele vai me encontrar. Ele vai me encontrar.
(piegas) Já disse que preciso parar de ler aquele romance. Ele me deixa com a cabeça totalmente cheia de nuvens. Nuvens cor de rosa!

4 comentários:

  1. Que lindo esse texto!
    As cartas, a cena como um todo, é como se eu pudesse ver, assim como a um filme romântico que assistimos.
    Que esse príncipe perdido no tempo e no espaço, te encontre, ou que você o encontre.
    Que essa procura lhe seja produtiva, e sempre lhe renda textos como esse.
    Atenciosamente:

    Hypnos.

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  2. Que lugar bacana, voltarei...a muito vc não posta algo, que triste!

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  3. muuito bons teus textos ..
    gostei muito do teu blog !
    da uma passadinha pelo meu ..

    Jovem Pensador Blog
    http://mauricio-maia.blogspot.com

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  4. Olá, muito bonito seu texto.
    Eu como você, adoro escrever.
    Achei seu blog enquanto procurava uma imagem para o meu texto...
    Te convido a visitar o meu blog.
    www.dosedemotivacao.blogspot.com

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