domingo, 27 de dezembro de 2009

Pressentimento


-Fernanda corria apressada pelos corredores da faculdade. Estava atrasada para a aula de laboratório e aquele professor era terrível, não tolerava essa tipo de atitude. Desesperada, tentou em vão chegar no horário. Não obteve sucesso, ficou para fora. Por somente 10 minutos. Encostou-se na parede fria ao lado da porta fechada e respirou profundamente, enchendo os pulmões novamente, vazios depois da quase maratona. A raiva descia gelada pela sua garganta, embrulhando o estômago e amargando o paladar. Duas horas inteiras para não fazer nada. Pensou com ironia o quanto teria sido melhor se tivesse ficado na cama aquela manhã. O despertador havia quebrado, então, Fernando passou metade do dia atrasada. E como um acontecimento ruim não basta, tudo até agora estava completamente errado. Esqueceu trabalhos, derrubou tubos de ensaio, errou a concentração de soluções, uma verdadeira maré de azar. E das altas e grandes. Foi pensando em todos esses desastres que Fernanda caminhou devagar para fora do prédio, dirigindo-se para os jardins. Encontrou uma mesa vaga, afinal todos estavam em suas aulas, e sentou-se. Ficar sentada ali assistindo o tempo passar não poderia colocar em risco a sua segurança, nem causar maiores danos. Observou os últimos alunos que entravam nas salas de aula. Suspirou alto, na tentativa de começar a conformar-se. Ao olhar para o chão, notou várias flores roxas que cresciam na grana. Era início da primavera, tudo estava colorido e florido, enquanto Fernanda estava em tons de cinza. Estendeu a mão para pegar uma florzinha que estava próxima e de imediato começou a arrancar pétala por pétala. Recitando "bem-me-quer" "mal-me-quer". "Mal-me-quer, obvio" - pensou Fernando ao chegar a última pétala. Outra flor, insistiria até obter alguma "resposta" positiva. 2 flores, 3 flores, 4 flores...5...nada. As pétalas roxas jaziam aos seus pés, misturando-se ao verde da grana. Não havia mais nenhuma flor por perto, levantou a procura de mais algumas inocentes para destruir. Ouviu uma risada baixa vindo da mesa de trás. "Claro, sou motivo de riso" - disse entre dentes. Virou de costas para ver quem estava achando graça naquilo tudo. Era um moço, sentado na grana, provavelmente observava Fernanda há algum tempo. Fernanda olhou feio para ele, censurando-o. Ele somente sorriu de volta, levantou-se e caminhou para ela com uma flor nas mãos. Observando-o desconfiada, mas curiosa, Fernanda deixou que ele se aproximasse. Ao chegar bem perto, ele estendeu a mão que segurava a flor e ofereceu a ela. "Tente com essa, vai dar certo." - disse o moço. Fernanda pegou a flor, dessa vez uma margarida branca, e recomeçou "mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer..." Quando chegou na última pétala, prendeu a respiração e parou. Daria "bem-me-quer". Antes que ela pudesse retirá-la, o moço pegou de volta a flor das mãos dela, disse - "Você vai querer guardar essa" - e sorriu, finalizando - "A sorte pode mudar."

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Foram passar o tempo que restava para a próxima aula juntos, conversar sobre flores. Fernanda sempre lembraria desse dia como sendo maravilhoso. O dia em que conheceu Adriano.

3 comentários:

  1. Éeee verdade!
    Quando as coisas não vão bem em nosso dia-dia,esperamos uma resposta,que tudo na vida tem de alguma forma um propósito,um significado por que tudo isso acontece, que pequeno que seja.
    O que resta é somente esperar os bem me quer da vida.

    Uma obs:Olhe bem em que jardim você vai arrancar as flores, senão você pode ser preso.hehehe

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  2. que liiindo *-* Você escreve tão bem cara!
    Feliz 2010, muitas felicidades e que seja ainda melhor que 2009 (yn)
    beijos :*

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