domingo, 31 de janeiro de 2010

Respire


-Eu quase posso ver, esse sonho que vejo. Mas há uma voz dentro da minha cabeça dizendo que eu nunca irei alcançá-lo. Cada passo que eu dou, cada movimento que eu faço, parece perdido, sem nenhuma direção. Minha fé está abalada. Mas eu, eu tenho que continuar tentando. Tenho que manter minha cabeça erguida. Porque sempre haverá uma outra montanha e eu sempre vou querer movê-la. Sempre vai ser uma batalha difícil e as vezes eu vou ter que perder. Mas tudo isso não é sobre o quão rápido chegarei lá, nem sobre o que está me esperando do outro lado. É a subida.





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Quero entender esses acontecimentos como uma pausa. Uma pausa para respirar fundo, alongar os músculos, tomar uma água e depois continuar a corrida. Como um amigo muito querido me lembrou essa semana, o vento ainda está soprando. Quero acreditar que sim. Quero acreditar que coisas boas estão por vim.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ao telefone


E o telefone tocou. E era ele. A voz infantil que tanto causava calafrios nela. Não parecia um homem com aquela voz, voz de menino. Mas era. Com o mais belo sorriso que ela já havia visto. As pernas tremiam, o coração disparava, a voz falhava e o ar faltava só de imaginar ele perto. Tocando suas mãos, seu rosto, seu cabelo, os lábios se encontrando...
-Alô? Você ainda está aí?
-Sim, estou...desculpa, me distraí...
-Distraiu? Está ocupada?
-Não, não...me distraí com o som da sua voz...
-...Eu só queria saber como você estava, se ainda lembrava de mim...

E como esquecer. A noite fria na qual se conheceram, a surpresa do encontro, e o abraço quente dele. Inesquecível. Ela, claro, diria ao telefone que depois de tanto tempo não pensava mais nele. Mentira. Mas admitir uma paixão, porquê? Para que? E ela nem sabia o que eram aquelas borboletas que tinha no estômago quando falava com ele. Amor? Não, dizia a senhora razão. E o coração, essa senhorita sempre e sempre jovem e em busca de amores, diria rebatendo:
-Se não é amor, o que mais pode ser?

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De volta com as historinhas de amor. É sempre o amor que enche nossos corações mesmo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Sentidos


-Estou tão cansado de tudo isso.
-E quem não está cansado da vida. De tantos encontros e desencontro.
-Não são os encontros, são os desencontros, os desentendimentos. As vezes tudo parece bagunçado, perdido. E me cobram atitute, maturidade, crescimento.
-É só querer...
-Sim! Eu vou começar, Eu vou mudar. Já tem data definida para isso acontecer.
-Desse modo não. Não vai nunca. Não se tem dia e hora marcada para crescer, para mudar. Somente acontece. O tempo passa, comemoram-se aniversários e derepente, você mudou. E sabe que mudou. Ao olhar para trás você vê que a criança ficou no passado juntamente com tudo o que você era. E que o presente está em você. Cheio de sua própria e nova personalidade.
-E como eu vou saber que mudei. Como começo, o que faço?
-Nada. Queira mudar primeiramente. Sinta de verdade que quer. Acredite que pode. E caminhe.
-Quando eu menos esperar...
-Quando menos você esperar, você cresceu. Cada atitute sua vai dizer isso. E vai estranhar as novas palavras que dirá, os novos pensamentos que terá. Mas vai se orgulhar de quem se é. Tenha certeza. Mesmo sendo diferente do que se imaginava.
-Aconteceu com você?
-Uhum...
-Quando?
-Não sei, em algum ponto nos últimos três anos.
-...
-...
E eles se olharam nos olhos. Ele e ela ali, sentados, naquela amizade sem limites, sem barreiras, sem explicação. Era somente amor. Aquele amor cúmplice e carinhoso e podia ve-lo nos olhos, nos sorrisos.
-Tudo o que você sorriu, chorou, leu, escreveu, escutou vai ajudar e vai tornar você mais forte.
-E simplesmente acontece?
-Simplesmente acontece...assim como acontece aniversários, já disse.
Um raio de sol cortava as nuvens, iluminando a campina. Eles ali, sentados na grama, o verde era infinito. O azul era infinito. Ambos deixaram o sol aquecer os corpos e a brisa refrescar os pensamentos. No silêncio mais barulhento de todos. Era amizade. Era afinidade.
-Sabe...tudo muda na gente. Mas o brilho dos olhos permanece o mesmo. A vida toda.

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Se conselho fosse bom a gente vendia! Mas eu acho que diz tudo não é mesmo! Eu só tenho a te agradecer. Por tudo. E por tudo que irá ainda acontecer.
Obrigada!
(é...ele sabe que é para ele)


Carolina

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sei lá

-"Se você pudesse viver para sempre, por quem (para que) você viveria?"

Me perguntaram isso, uma vez. E eu pensei alguns minutos antes de responder. Talvez viveria por um grande amor. Talvez por uma grande aventura. Ou por somente viver, eternamente. Mas percebi que não valeria a pena. A eternidade deve ser chata. Monótona. Mesmo ao lado de um grande amor. Mesmo cada dia sendo uma grande aventura. A eternidade cansa. Enjoa. Seria entediante. Ver o tempo passar e perceber que ele não leva nada. Que todos os erros possuem tempo indeterminado para serem resolvidos. Que todas as vontades possuem anos e anos para serem realizadas. Que cada dia será somente mais um dia dentro do infinito que é o eternamente. A vida só tem graça porque o tempo passa. E leva tudo consigo. A vida só tem graça porque tem hora marcada para acabar. Viver para sempre é trapacear. E ninguém trapaceia no jogo da vida. O que dá movimento a todos é essa incerteza de quando, como e onde acabará. É isso que move pessoas, governos, países...é isso que move todas as coisas. A vida é movimento. A eternidade é estagnação. A vida é loucura. A eternidade é razão. A vida é um menino hiperativo de dez anos de idade. A eternidade é o vovô velhinho que senta em frente a casa na cadeira de balanço. Eu não gostaria de viver para sempre. Gostaria de viver o tempo suficiente para saber que acabou na hora certa. Se é que pode-se saber realmente quando acaba. Quem sabe. Ninguém sabe.

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Mórbido.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Quando tudo fica


-Sentado em uma cadeira na sala, de frente para a grande janela, Pedro olhava o nascer do dia. Ainda era madrugada e em seus olhos podia se ver refletido os primeiros raios amarelados do sol. Que banhavam a escura sala de dourado e lembravam a Pedro que ele deveria partir. Para mais uma viagem. Mais um avião, mais uma estrada, mais alguns milhares de quilômetros. Em um canto ali perto, estavam as malas prontas. Pouca bagagem, para muito tempo distante. Junto com roupas, sapatos, meias e objetos pessoais, Pedro levava saudade. E a felicidade do próximo reencontro. Saudade de Amanda, que dormia no quarto ao lado. E ele odiava acorda-la para dizer adeus, preferia ir, somente. Já era difícil deixa-la sem ter que olha-la nos olhos. Tudo o que ele queria agora era encontrar os lábios de Amanda e perder-se neles. Sem dever, nem temer. Porém a clara manhã lutava contra a escuridão da madrugada e o céu já cedia ao azul cintilante do amanhecer. Junto com o azul vinha também a obrigação, a viagem, a partida. E Pedro se perderia por estradas desertas e céus claros. Ele iria, e o coração ficaria. Fechando os olhos um momento, Pedro respirou fundo. Levantou de onde estava, juntou as malas e caminhou até a porta. Deu uma olhada pelo aposento demorando o olhar no porta retrato com a foto de Amanda. Suspirou e sorriu. Cruzou finalmente a soleira fechando a porta atrás de si com um estalinho. Sobre a mesa, logo abaixo do porta retrato a luz clara e branca da manhã que surgia acariciava um bilhete. A letra de forma curvada era de Pedro e dizia "Enquanto você se lembrar...uma parte de nós estará junta." Ele foi, mais voltaria.

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Inspirado nessa música : Close your eyes - Westlife
(http://www.youtube.com/watch?v=YAaQM4WGl6g&feature=related)

sábado, 16 de janeiro de 2010

Velocidade


-Feche os olhos. Agora, gire em torno de você mesmo. Bem rápido. Mais rápido, vamos! Mais rápido, mais rápido, mais rápido...só mais um pouquinho. Pare! Tente se localizar. Tente pensar em alguma coisa. Tente organizar algum pensamento depois de todas essas voltas. É assim que eu me sinto. Constantemente, com tudo girando rápido de mais dentro de minha cabeça. Em alta velocidade, dando voltas e mais voltas e me deixando agoniada por não conseguir parar. E não vai parar tão cedo. A espera, a mudança, a ansiedade, e algumas doses de insegurança fazem tudo girar e girar e girar e girar e girar e girar... já estou tonta novamente. E não vai parar tão cedo.

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Ando tão egoísta ultimamente. Não consigo não falar de mim mesmo. Tudo anda girando ao redor de mim, dentro de mim. Loucura. Espero que quando essa corrente de cores, palavras, rimas, histórias finalmente pararem de fazer círculos em minha cabeça eu volte ao estado normal de tranquilidade. E consiga falar de qualquer outra coisa, além de mim. Quantas voltas serão necessárias? Quando tudo parar, eu aviso.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Espelho


"Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes
Para não pensar em cousa nenhuma,
Para nem me sentir viver,
Para só saber de mim nos olhos dos outros, reflectido."

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

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Eu só queria não pensar mais. Não pensar em você, não pensar no seu sorriso, que já está desbotado de tão errado. Não pensar em nada. Mas, não pensar em nada, já é pensar em alguma coisa.

sábado, 9 de janeiro de 2010

As horas


-Impossível. É impossível não lembrar. Não pensar um minuto sequer naquele tempo que foi. Que ficou para trás. Por mais longe que esteja, por mais perdido que ficou, por mais dor que cause. Não adianta. Sempre uma ventania ou brisa passa e com ela segue junto memórias. Lembranças. O erro é querer voltar. Querer. Não desejar. Porque voltar, não volta. O máximo que acontece é aquela sensação de "tudo de novo" quando na verdade, tudo está diferente. Desejar é saudade. E saudade faz parte. Está ali dentro do peito e aperta tanto. E deseja tanto "tudo de novo". Saudade é consequência de tudo aquilo que foi vivido e que foi bom, e é por esse motivo que faz tão bem. Não faz bem viver no passado. Faz bem lembrar do passado, assim, de um modo saudosista. Quase melâncolia. Quase tristeza do que se foi. Reencontrar, recordar, rever, tudo aquilo que um dia foi, trás aquela sensação gostosa de conforto, de reviver. É bom. É um delícia olhar para frente e saber que tudo está diferente. Graças a Deus! A reprise seria entediante. E olhar para trás e perceber que tudo ainda está lá. Congelando no frio do que foi deixado no ontem. E hoje é quando acontece. Hoje é quando se lembra. Hoje é quando sente-se saudade. O tempo é, na verdade, ladrão bonzinho. Herói. Rouba os segundos, os minutos, as horas. Mas entrega o futuro. Assim, em mãos. E nos permite lembrar. É impossível não lembrar. Mas é importante perceber que o passado, está ali, no passado.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Como água


-Eu amo. Eu odeio. Odeio mesmo. Eu sinto. Eu ignoro. Eu fico em silêncio. Eu grito. Eu corro. Eu permaneço. Eu vou embora. Eu digo adeus. Eu sinto saudade. Eu esqueço. Eu lembro. Eu escrevo. Eu rasgo folhas e folhas. Eu encontro. Eu perco. Eu brinco. Eu fico séria. Pensativa. Eu choro. Eu riu. Eu faço mil coisas ao mesmo tempo. Eu quero só ficar onde estou. Eu viajo. Eu volto para casa. Eu vejo. Eu fecho os olhos. Eu sonho. Eu idealizo. Eu perco. Eu ganho. Eu fico angustiada. Eu me abandono. E depois me acho. Eu fico feliz. Eu fico triste. E sou. Eu era. Eu serei. Eu me preocupo. Eu jogo tudo para o alto. Eu brigo. Eu me arrependo. Eu peço desculpas. Eu perdoo. Eu desperdiço. E jogo fora. Depois quero de volta. Eu quero o passado. E depois quero o futuro. Eu bebo água. E depois quero vinho. Eu beijo. Eu olho nos olhos. Eu olho para baixo. Eu sou tímida. Eu perco a vergonha. Eu falo de mais. Eu sinto de mais. Eu espero de mais. Eu quero de mais. E depois não quero nada. Eu me jogo. Eu pulo. E subo novamente. Eu flutuo. E volto com os dois pés no chão. Eu organizo. Eu bagunço. Eu atrapalho. Eu ajudo. Eu me emociono. Eu sinto. Eu sinto um turbilhão de palavras dentro de mim. Eu sou o mais puro paradoxo. E quero ser.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Sempre aberta


-Eu queria deixar aqui todas as minhas impressões. Escrever sobre tudo que sentisse, sobre tudo que visse. Mas eu falhei. Falhei porque não consigo transformar em palavras todos os sentimentos. Mas eu gostaria tanto de conseguir. Queria pode deixar aqui um filme, uma imagem que transparente como vidro, mostrasse minha alma. Eu tenho vontade de mostrá-la as vezes. Só que sei que ninguém quer ver. Uma revelação pessoal assim é quase loucura. Despir-se de tudo, largar máscaras e roupas, sentir a total liberdade do mundo. Escrever faz isso comigo, e eu não consigo ir mais fundo. O que mostra minha falha. Mergulhar dentro de mim, procurar aquilo que falta, rompar a barreira das palavras. É essa a próxima etapa. Aí vou descrever sentimentos inéditos. Mas, pensando bem, talvez eles não devam ser descritos, e revelados. Talvez eles devam somente serem sentidos. Para muitos, saber que eles existem seria um choque. Deixa. Minha falha é, então, somente saber que meus olhos não são janelas. São portas. E estão destrancadas. O convite está feito.

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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
"Trouxeste a chave?" "

(Carlos Drummond de Andrade)