sábado, 20 de fevereiro de 2010

Céus e mares

-Fabrício era piloto. De aviões. Se formou como um dos melhores da academia. Sua paixão era voar. Sempre fora voar. Quando criança gostava de balançar-se bem alto no balanço de madeira da casa de seu avô, porque desse modo acreditava estar mais perto das nuvens. Mais perto de Deus. Mas, mais que voar, Fabrício amava Sofia. Sua melhor amiga desde o colegial e noiva. O primeiro encontro dos dois havia sido nos ares, pelo menos quase literalmente. Uma roda gigante de parque de diversão ajudou a simular bem o infinito que Fabrício sentia ao voar. E Sofia amava o fato de Fabrício amar os ares. Amava o brilho de seus olhos amadeirados quando ele falava ou descrevia o que sentia lá em cima. Amava seu entusiasmo quando ele começou a voar pela força aerea nacional. Amava ele de uniforme, fardado, impecável. Era quando ele se transformava no herói, no princípe, que Sofia sempre esperava, que Sofia sempre sabia que se escondia dentro de Fabrício. E ela aproveitava cada minuto que tinha, cada minuto que podia passar ao lado dele. Pois quando vinham os treinamentos, as viagens, as missões, era só saudade. Dias e mais dias de saudade. O que confortava Sofia, era olhar para o céu, pois ela sabia que era lá que Fabrício estava, mais perto do infinito azul e mais longe dela. Longe, mais tão perto. Sempre dentro do coração. Até mesmo quando ele teve que partir para a guerra. Uma guerra que nem mesmo era dela, nem mesmo era dele. Só que ele teve que ir. Teve que ir, liderar o restos dos pilotos, o resto dos aviões, como líder e exemplo que era. E Fabrício foi, corajoso, confiante. E Sofia ficou, sozinha e amedrontada. Ela acreditava que ele voltaria, claro que voltaria. Mas não voltou. Primeiro foram meses sem notícias. Depois foram a falta de resposta para suas perguntas e por fim aquela esperada porém surpresa visita em sua casa. Homens oficiais, com notícias oficiais. Fabrício sofrera um ataque inesperado. Estava patrulhando os céus de seu perímetro, e tudo estava tranquilo, quando na verdade, não estava. Seu avião caiu ao mar, num amontoado de destroços metálicos e pedaços de corações. As buscas duraram semanas, mais infelizmente... . E Sofia sabia o que era aquele infelizmente. Infelizmente não teria mais as tardes em parques de diversão, nem rodas gigantes. Nem os olhos amadeirados, nem as descrições cheias de paz de como era voar lá em cima. Nunca mais Fabrício. Nunca mais o amor que ele dividia com ela. Nunca mais. Sofia não sabia o que dizer, nem como agir. Ele não voltaria para casa. Não como antes. Naquele momento ela só conseguiu olhar através da janela de sua sala, e viu o céu lá fora. Azul, calmo e em paz. E por mais que isso não confortasse para sempre, naquele momento bastou. E ela soube que Fabrício estaria ali, vivendo como pássaro, como nuvem, como vento. Num céu claro e tranquilo como ele sempre quis. Livre e eterno.

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