sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Isso não é uma despedida


"Tem lugares que me lembram minha vida, por onde andei...

Quando morava nos predinhos e brincava pelo campo de futebol e parquinho, quando mudei de casa, quando mudei de escola, colégio criativo, colégio sagrado. Minha vida é toda essa cidade.

...as histórias, os caminhos
o destino que eu mudei...

Pessoas que ajudei, que conheci, que amei. Que aconselhei, que levaram um pedaço de mim, que deixaram um pedaço em mim.

...cenas do meu filme em branco e preto
que o vento levou e o tempo traz...

E eu lembro do passado. Da minha infância. Da minha adolêscencia. Da minha juventude.
Das casas antigas que mudaram e dos terrenos vazios que foram preenchidos. Mais uma vez, minha vida é toda essa cidade.

...entre todos os amores e amigos
de você me lembro mais...

Entre todos os amigos, existem aqueles que vão marcar. E quando a saudade apertar, será deles que mais sentirei falta. Entre todos os amores, existem aqueles que mais amei. E será deles que vou lembrar quando sentir saudade de um amor verdadeiro.

...tem pessoas que a gente
não esquece nem se esqueceu...

Existem pessoas que marcam para sempre, mesmo que eu não tenha marcado a vida delas.

...o primeiro namorado
uma estrela da TV
personagens do meu livro de memórias
que um dia rasguei do meu cartaz...

E são eles que fizeram eu ser o que sou hoje. Livros que li, personagens que amei, cantores e artistas. Porque mesmo que agora as revistas
com as fotos deles estejam jogadas, rasgadas, esquecidas; construiram a Carolina de hoje.

...entre todas as novelas e romances
de você me lembro mais...

Meus olhos verdes, que nunca esquecerei. Foi ele que me ensinou a ter fé em mim mesma, a ter fé em minhas decições. E isso não tem como esquecer, não tem.

...desenhos que a vida vai fazendo
desbotam alguns, uns ficam iguais...

Tudo que vivi, passei e senti, mesmo esquecido, ainda está lá. Guardado na caixa empoeirada da memória. Me lembrando de toda a minha vida.

...entre corações que tenho tatuados
de você me lembro mais
de você, não esqueço jamais!"

Todos aqueles que amo, que amei e que amarei. Sempre e para sempre no coração.

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Minha vida é toda essa cidade. Está por toda essa cidade. E eu estou mudando, começando uma nova estrada. Deixando tudo aqui temporariamente. Só que eu volto. Volto porque amo aqui e porque minha toda está aqui.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Par perfeito


-Eu escrevo porque me liberto. Porque me exponho, sem ter vergonha de mim. Porque me revelo, retiro minhas máscaras, minhas roupas, minhas definições. Escrevo porque me faz bem, Porque faço do papel meu confessionário, meu amigo, meu próprio eu. Escrevo porque uma parte de mim cobra, exige que eu escreva. Pede e grita. Escrevo porque vejo palavras em cenas, em sentimentos e quando ando na rua elas pulam pela minha mente. Escrevo porque sinto. Porque amo as palavras. Porque me encontro, me descubro e quando acho que já sabia, me descubro de novo. Escrevo porque me livro das dores, dos amores, das angustias. Porque quando a saudade aperta é só escrevendo que ela afrouxa um pouco os braços. Porque a dor deixa de ser dor. O amor se torna mais amor. O sentimento se torna livre, leve, e eu posso ve-lo e toca-lo e entende-lo. Escrevo porque entendo a vida com palavras. Entendo as pessoas com palavras. Me entendo com palavras. Escrevo para libertar tudo que estiver preso dentro de mim. Para desamarrar os nós dos pré-conceitos, das limitações, das imperfeições. Escrevo porque tenho dentro de mim tudo, e tudo as vezes tem que sair. Escrevo como escape, como refúgio, como abrigo, como proteção. Escrevo simples assim, porque um dia acordei e resolvi contar como foi aquela festa, com 9 anos de idade. Acordei e resolvi contar sobre o meu primeiro amor, e sobre o segundo, o terceiro...o último. Escrevo porque escrever faz de mim ser o que sou. Fez eu ser o que sou. E fará. Escrevo porque assim me sinto ganhadora de um presente. De um dom. O dom das palavras. E pode ser muita pretenção agora, mas talvez amanhã, nem seja mais. Eu escrevo porque me sinto bem. Porque sinto que posso passar sentimentos através de palavras. E aliviar esse rodamoinho de emoções. Escrevo quando tenho raiva, quando sinto dor, quando estou triste, quando sinto amor, quando quero tornar real meus sonhos. Escrevo para me aproximar dessa realidade inventada que eu adoro. Escrevo para fugir do mundo que conheço e entrar em um mundo que quero conhecer melhor. Escrevo porque faz parte de mim. Escrevo porque gosto. Escrevo porque as palavras são minhas verdadeiras companheiras.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Céus e mares

-Fabrício era piloto. De aviões. Se formou como um dos melhores da academia. Sua paixão era voar. Sempre fora voar. Quando criança gostava de balançar-se bem alto no balanço de madeira da casa de seu avô, porque desse modo acreditava estar mais perto das nuvens. Mais perto de Deus. Mas, mais que voar, Fabrício amava Sofia. Sua melhor amiga desde o colegial e noiva. O primeiro encontro dos dois havia sido nos ares, pelo menos quase literalmente. Uma roda gigante de parque de diversão ajudou a simular bem o infinito que Fabrício sentia ao voar. E Sofia amava o fato de Fabrício amar os ares. Amava o brilho de seus olhos amadeirados quando ele falava ou descrevia o que sentia lá em cima. Amava seu entusiasmo quando ele começou a voar pela força aerea nacional. Amava ele de uniforme, fardado, impecável. Era quando ele se transformava no herói, no princípe, que Sofia sempre esperava, que Sofia sempre sabia que se escondia dentro de Fabrício. E ela aproveitava cada minuto que tinha, cada minuto que podia passar ao lado dele. Pois quando vinham os treinamentos, as viagens, as missões, era só saudade. Dias e mais dias de saudade. O que confortava Sofia, era olhar para o céu, pois ela sabia que era lá que Fabrício estava, mais perto do infinito azul e mais longe dela. Longe, mais tão perto. Sempre dentro do coração. Até mesmo quando ele teve que partir para a guerra. Uma guerra que nem mesmo era dela, nem mesmo era dele. Só que ele teve que ir. Teve que ir, liderar o restos dos pilotos, o resto dos aviões, como líder e exemplo que era. E Fabrício foi, corajoso, confiante. E Sofia ficou, sozinha e amedrontada. Ela acreditava que ele voltaria, claro que voltaria. Mas não voltou. Primeiro foram meses sem notícias. Depois foram a falta de resposta para suas perguntas e por fim aquela esperada porém surpresa visita em sua casa. Homens oficiais, com notícias oficiais. Fabrício sofrera um ataque inesperado. Estava patrulhando os céus de seu perímetro, e tudo estava tranquilo, quando na verdade, não estava. Seu avião caiu ao mar, num amontoado de destroços metálicos e pedaços de corações. As buscas duraram semanas, mais infelizmente... . E Sofia sabia o que era aquele infelizmente. Infelizmente não teria mais as tardes em parques de diversão, nem rodas gigantes. Nem os olhos amadeirados, nem as descrições cheias de paz de como era voar lá em cima. Nunca mais Fabrício. Nunca mais o amor que ele dividia com ela. Nunca mais. Sofia não sabia o que dizer, nem como agir. Ele não voltaria para casa. Não como antes. Naquele momento ela só conseguiu olhar através da janela de sua sala, e viu o céu lá fora. Azul, calmo e em paz. E por mais que isso não confortasse para sempre, naquele momento bastou. E ela soube que Fabrício estaria ali, vivendo como pássaro, como nuvem, como vento. Num céu claro e tranquilo como ele sempre quis. Livre e eterno.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Lá em cima


-Eu sempre tive uma dúvida. Que talvez agora pareça ridícula e infundada. Mas, mesmo assim, me incomodava. Eu sempre perguntava, quando o dia amanhecia nublado, e o céu cheio de nuvens se o azul tinha transformado-se em branco, cinza, negro, ou se as nuvens eram tantas que cobriam totalmente o azul. E eu observava, por vários minutos, e pensava sobre qual teoria era mais acertada. Durante muitos dias, e até meses eu realmente não sabia. Porque existem momentos que as nuvens são tantas, que o tempo está tão fechado, que a tempestade é tão ameaçadora que não tem como acreditar que o azul ainda está lá. Em algum lugar. Só que ele está. Hoje eu sei. E precisei de observação, e de uma manhã maravilhosa que eu olhei para o mais escuro céu de tempestade e lá no meio, entre uma brexa das nuvens escuras, eu vi. Eu vi o céu claro que permanecia. Eu vi os fracos raios de sol que atravessavam a abertura. Eu vi, que mesmo totalmente coberto, o azul ainda estava lá. Acima das nuvens. Acima da tempestade. Acima de qualquer ameaça. Sereno. Tranquilo. Em paz. Enquanto aqui, abaixo delas, o caos era todo, e chovia, chovia, chovia numa reviravolta de nuvens cinzas e escuras. O azul não muda. É sempre azul, em todos os momentos. O que acontece é que a escuridão, quando mais forte, o cobre por inteiro. E ai, é impossível acreditar que alguma coisa realmente boa está ali em cima. A metáfora pode ter ficado ruim. Mas é uma coisa que eu observei e que hoje levo comigo. Para mim, a maior conquista é quando cessa a tempestade e o céu azul e limpo comeaça a aparecer banhado de raios amarelos, ainda fracos, do sol. E claro, as nuvens escuras cedem a vitória completa do sol. Só por alguns dias, meses, anos, talvez. E o céu azul aceita ser encoberto de novo, quando for preciso. Porque o que importa mesmo é o que está acima. Acima das nuvens. Acima de tudo.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Tingir


-Eu sempre soube que seria assim. Que quando olhasse novamente para seus olhos verdes eu desistiria de qualquer vingança. Já não importa tudo que passou. Já não quero pensar nos dias perdidos sem você. Nas dores. Na solidão. Eu sempre soube que quando olhasse para seus olhos verdes, perderia as forças. E agora, eu em seus braços, pele com pele, sentindo seu toque, seu perfume, não penso mais em nada. Não penso nos outros lábios que você beijou, nas outras mãos que segurou, nos corpos que abraçou. Agora, neste instante, marcado pela luz que entra pelas cortinas abertas, iluminando você, iluminando eu, sei que era amor. Sempre será amor. Porque eu perco a força diante de você. Porque eu esqueço dos meus erros, dos seus erros diante de você. Porque eu te perdoo e te amo assim. Errado. Errante. Mas meu. Sempre meu. E sempre aqui, neste quarto, nesta cama, neste silêncio. Não vou negar que sofri, que chorei, só que foi somente agora olhando para seus olhos verdes que compreendi. É amor. Nós aqui e tudo, é amor. Nada importa. Nada machuca. É amor. Só eu, você e minha certeza. Verde certeza.

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Esse merece uma explicação. Uma vez, eu amava uma pessoa. Mas amava mesmo. O mais platônico de todos os meus amores foi esse. E (acho que chegou a hora da revelação) todos os meus contos em que aparecem olhos verdes, são inspirados nele. Que nem sabe que um dia eu amei. E eu amo ainda. Sonhei com ele esses dias. Saiu esse texto. Um dia, ele vai saber.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ausente

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

Clarice Lispector


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Não gosto muito da Clarice. Mais não tem como. Não consigo escrever hoje, e não conseguirei amanhã, provavelmente. Tenho que resolver muitas coisas que estão além do reino das palavras. Que estão além da minha imaginação. Coisas que vivem no mundo real. E não aqui. Espaço criado por mim. Minha realidade inventada. Eu volto. Eu voltarei.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ventania


-Feche os olhos agora. Faça um pedido. Peça, qualquer coisa. Deixe os últimos raios de luz molhar seus olhos fechados. Respire o vento que sopra. Sinta a vida em torno de você. Porque apesar de tudo, deve-se viver. Apesar de tudo deve-se querer ir em frente. Apesar de tudo deve-se sempre enfrentar as dificuldades. Então, feche os olhos agora e faça um pedido. Peça, simplesmente. Qualquer coisa. Deseje felicidade. Amor. Sonhos. Força. Paciência. Peça, somente o que estiver no fundo do seu coração. Sinta, antes de pedir. E acredite. Acredite mesmo sabendo que pode perder, mesmo sabendo que tudo pode dar errado, mesmo sabendo que há chances iguais de fracasso e de sucesso. E não adianta somente buscar o sucesso. As vezes ele aparece disfarçado de precipício. E algumas vezes, deve-se cair. A queda é somente um vento mais forte. Que sopra contra. Mas que nos faz voar. Então, feche os olhos agora, e acredite mais uma vez. Pelo menos mais uma vez. Que no meio de tudo isso alguma coisa boa há de aparecer. Sempre aparece. O tempo não pertence a ninguém desse mundo. O tempo não é seu. E talvez demore. Só que será na hora certa. Arrisque mais uma vez. Feche os olhos então, e faça um pedido. Peça. E mesmo que não venha, saiba aceitar. Existem coisas que nunca se deve entender. O segredo de pedir e acontecer, ou não, é uma delas. E, há um enorme buraco entre uma coisa e outra. Nesse momento, aqui, e agora, somente peça. E deixe o destino escolher. E saiba, por mais errado que pareça, talvez esteja certo. Por mais errado que pareça, talvez seja para você.

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Eu, tentando me consolar. Vou virar paranaense agora. Maringá me aguarde!