sábado, 29 de setembro de 2012

Matemática

- As coisas começaram a perder o controle quando a soma não era mais igual a dois. As coisas começaram a desmoronar quando duas vozes viraram três, que viraram cinco, que viraram sete, que viraram gritaria. As coisas começaram a seguir por um caminho obscuro quando as verdades começaram a serem escondidas, e os atos feitos no escuro. Quando a luz se apaga, já não se enxerga mais os olhos. Quando o muro cai, já não se consegue colar os tijolos. Quando o alicerce balança é porque já não era feito com somente dois pilares, e sim três. Sendo que o terceiro está no lugar errado. Equações matemáticas são perfeitas, são exatas. Um mais um sempre será igual a dois. A não ser que se some mais um. Aí, passa a ser três, cinco, sete, bagunça, confusão, dúvida e dor.
As respostas são claras, mesmo quando não se possui as perguntas. A interferência externa trouxa números a mais, palavras a mais, sugestões a mais, trouxe tudo aquilo que nunca deveria ser cogitado. Trouxe a possibilidade de atitudes que não deveriam existir. Trouxe que o errado era o certo, que o certo era o errado. Trouxe ondas de rádios, tipo aquelas chiadas que não fazem sentido nenhum. E no final, quando a conta já não dava mais certo, tudo desabou de vez. Afinal, os números não se encaixavam mais. E havia uma grande maldade por parte daqueles que sobravam naquela soma. Para os outros, dor. E tempo. O tempo constrói tudo. O tempo leva tudo.

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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Imagine você...

- Era um homem solitário. Não sozinho. Solitário. De alma serena. De calmos olhos castanhos desgastados pelas várias imagens vistas. De rosto marcado pelos sinais do tempo. De alma tranquila, jovem, leve. Sentava todo dia naquela banco da praça, e lá permanecia. Cantarolava uma canção, alimentava os pássaros, via o tempo passar. Um tempo agora que já não representava muita coisa, pois sabia dos mistérios da vida, sabia dos segredos e das armadilhas. Era um homem bonito. Se não fosse pela idade. Porém, imaginando-o mais novo, sim, um homem bonito. Usava sempre o mesmo chapéu e o mesmo paletó, companheiros de muitas aventuras, histórias, noitadas. Um dia, quando lhe perguntaram o porque de sempre repetir as mesmas peças de roupas, disse "São lembranças, coisas que ainda não perdi". E não esquecia das lições aprendidas. Vez ou outra alguém sentava com ele, conversava, desabafava, dizia dúvidas, contava das alegrias, e em troca, não ele não dava conselhos, ele contava suas histórias. E assim, ensinava sem saber. Era um homem solitário. Era sempre visto voltando para casa no fim da tarde, com um jornal em baixo do braço e uma vida inteira dentro daquele corpo de senhor. Era um homem que, tendo vivido por muito tempo, sabia de muita coisa. Era um homem com uma doçura inquestionável no olhar, ombros fortes que sustentaram algum dia, seu mundo e olhos, sim novamente os olhos, olhos de menino, olhos fundos e profundos de quem sempre soube que o correto era andar pelo caminho do meio. E assim fez sua vida. Assim fez sua história. Sem certos ou errados, com altos e baixos, com vida, com amor, com sabedoria. Ele sabia muito. Era feliz, e assim permaneceria.


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Foi por causa de uma história que ouvi hoje.
Tem mais coisa por aí. Tem coisas por acontecer.




segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Aquele dia...

-Minha força está nos finais. Quando tudo desaba e resta somente eu comigo mesma. Minha força está no silêncio. Na compreensão que tudo finalmente, acabou. Na tranquilidade de entender que no fim nada mais é possível. Que tudo já foi dito. Que tudo já foi feito. Resta somente aceitar. Minha força está na aceitação inevitável e na dor que virá em seguida. E me fortaleço para que ela não bata forte de mais e me derrube. Minha força está nos finais. Na hora que tudo termina. Que nada mais resta. Que ninguém mais se importa. Eu espero. E aceito o fim. Mais de uma vez. Afinal, já perdi quase de tudo nessa vida. Mas, critique-me aquele que nunca perdeu nada. Aceito o fim. E me recolho dentro de mim.

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"No mais, estou indo embora..."

Zé Ramalho - Chão de giz

sábado, 1 de setembro de 2012

Não tão quieto assim.

-Não tem jeito. As palavras simplesmente não querem aparecer hoje. Elas querem me dizer para permanecer em silêncio, então. Para eu permanecer em silêncio, quando tenho vontade de gritar, de xingar, de acusar, de apontar, de bater, de fazer tudo que seja o contrário de permanecer em silêncio. Só que, qualquer coisa que for dita, que for escrita, que for falada. Será um retrocesso. Um atraso. Uma falha. Pensando em tudo o que já aprendi, em tudo o que já vivi. Para lidar com certas situações, o melhor mesmo é não falar nada. Para passar a mensagem que se deseja a certas pessoas, o melhor mesmo é permanecer em silêncio. Até porque, se permaneço em silêncio, não digo que sei de tudo. Que vejo a verdade em cada palavra que for dita, na mentira.

O que me descreve hoje, é Alberto Caeiro.

"E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz."