sexta-feira, 30 de abril de 2010

E o pensamente lá em você...


-O céu coloria-se em tons de cinza. Iria chover. Talvez mais tarde, ou talvez mais cedo. Iria chover. O ar antes parado havia se transformado em brisa, depois em vento, e agora ventania. Trazia com ele as nuvens escuras carregadas de água. Algumas pessoas já procuravam lugares para se abrigar, outras abriam os guarda-chuvas, outras caminhavam mais apresadamente. Marina não. Marina andava na direção contrária de todos os outros. Enquanto eles voltavam, ela ia. A procura de um telefone público. A procura de algum meio de comunicação. A procura de falar pelos algumas palavras soltas com Guilherme. Não havia nada entre eles. A distancia talvez não permitiria que nada houvesse. Mas, Marina se sentia bem pensando nele, falando com ele, ouvindo a voz dele do outro lado da linha. Se isso era reciproco, ela achava que não. Só que ficava a ponta da dúvida, que puxa a ponta da esperança, que trás junto com ela uma breve certeza. Enquanto o céu escurecia, Marina caminhava, agora mais impaciente. No final da rua, ali na esquina, avistou o aparelho, coberto pela sua capa amarela. Telefone público, "orelhão". Aproximou-se. Verificou se estava funcionando. Inseriu o cartão. Discou o número, já posteriormente decorado. Esperou. Chamou uma vez. Duas vezes. Três vezes. Quatro vezes. Nada. Somente o barulho da espera. Desligou. Tentou mais uma vez. Inseriu novamente o cartão. Discou novamente o número. Esperou. Chamou uma vez. Duas vezes. Três vezes. "Alô?".
Alívio e felicidade. A voz de Guilherme trouxe de volta a cor do céu. Trouxe de volta a brisa morna. Trouxe de volta as nuvens brancas de despreocupadas. Somente por um instante. A conversa não durou muito tempo. Os créditos do cartão eram poucos. As palavras eram muitas. As vezes Marina as atropelava. As vezes as engolia. As vezes não falava. Sentia somente, assim tão distante, a presença de Guilherme. Quando finalmente desligou o telefone, percebeu que já estava chovendo. Ali, abrigada naquela pseudo cabine, sorriu sozinha ao lembrar que havia esquecido o guarda-chuva em casa. Não se importou. Respirou fundo e ganhou a chuva. Seus passos espirravam água pela calçada. As gotas molhavam lentamente sua roupa, seus cabelos, seu rosto. Nada mais importava. Importava gravar o mais fundo que conseguisse a voz de Guilherme. Importava, somente, saber que amanhã quem sabe, ele poderia estar mais próximo. Poderia estar ali, tomando chuva com ela.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Achados


-"O amor não conhece sua própria intensidade, até a hora da separação."

É...nem tenho muito a dizer. Já está bem dito.

sábado, 24 de abril de 2010

Assim como eu quis


-O que seria desse fim de tarde se não fosse esse blog. Se não fosse esse espaço. Se não fosse essa humilde companhia das palavras. Eu poderia até fechar os olhos que elas se escreveriam sozinhas. Certas de que ao final eu olharia e gostaria. O que seria do meu fim de tarde se não pudesse contar com esses minutos nos quais respiro ar fresco e renovado que chega até mim a cada nova brisa. A cada nova janela aberta e vista embriagante. Não há nada para se ver de minha janela. O terreno em frente e abandonado, que chora e transpira toda sua solidão. A edifício ao lado que na sua magnitude vive, pleno, alto, majestoso e só. O conjunto de casas ao outro lado, onde fervilha vida, esperança, músicas e conversas. E eu, daqui de minha janela, nesse fim de tarde, estudando química e pensando. Pensando em mim, e no que haverá além de mim. Pensando em você, e se realmente existe você. Pensando em como o sol se foi tão rápido e como a lua subiu tão devagar. O barulho de carros antes distante não existe mais. Sinal de que a cidade se prepara para dormir. Para as festas da madrugada. Para as músicas da madrugada. Eu ficarei aqui. Olhando o firme horizonte que me promete mais. Me promete sempre mais. Por mais que demore eu sei que ficarei aqui, na minha janela. Esperando as promessas que um dia foram feitas, esperando de novo as luzes se acenderem na janela em frente, esperando a vida. Esperando também, quem sabe, você. Que não tem hora para chegar. Que eu nem sei se realmente existe. Mas que eu sinto dentro de mim, junto com as pulsadas de meu coração. Nesse fim de tarde pseudo-alegre, cheio de cores, cheio de precepções, cheio de incertezas.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Aniversário


-Um ano. Há exatamente um ano atrás, surgiu esse blog. Era um desejo antigo. Sempre quis contar minhas histórias para mais pessoas. Sempre quis que uma parte, ou talvez várias, fossem mostradas e reveladas. Sempre quis tocar o coração de outros, assim como toca o meu, quando leio contos. Só que a hora certa aconteceu somente há exatamente um ano atrás. Antes eu não teria tanta segurança, tanta confiança. Agora tenho. É assustador ler os posts antigos e perceber com eles o meu crescimento. Meus medos aqui, meus amores aqui, meus desejos aqui, minhas memórias e lembranças. E no decorrer deste ano, tanta coisa mudou. Se antes eu escrevia da mesa do meu quarto, hoje eu chamo outro lugar de casa. Se antes eu pegava papel e caneta e escrevia olhando a vista de minha janela, hoje tenho outra vista, outra janela. Se antes eu viajava em pensamentos de minha cama, hoje é o teto de outro lugar que me contém. Muita coisa mudou. Mas muita coisa continua a mesma. Minha letra no papel ainda é a mesma, alguns de meus sonhos também, algumas de minhas dúvidas ainda permanecem. Eu ainda permaneço e este blog permanece. Ele é um pedaço de mim, um refúgio, um lugar calmo e seguro. Onde está exposto todo meu ser. Eu estou por aqui e vou continuar. Espero continuar por mais alguns anos. Mesmo que eu mude de lugar, mesmo que eu mude de céu, de chão, de ar, de mar. Enquanto houver papel e caneta, enquanto houver internet e um computador, enquanto durar. Um ano. Pode ser pouco tempo. Pode ser muito tempo. Para mim foi o tempo suficiente para muita coisa. Foi o tempo exato para eu entender que a escolha mais certa de todas foi ter feito esse blog. Foi estar por um ano, aqui.

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Eu iria colocar aqui os melhores posts desse um ano de blog, só que quem iria escolher seria eu, e claro que essa escolha iria ficar muito pessoal. Gostaria então de deixar com as pessoas que durante esse um ano acompanharam o blog, a escolha. Então, é só postar o link escolhido junto com o comentário. Eu agradeceria muito.

sábado, 17 de abril de 2010

Angústia


-Os primeiros raios do sol, transparentes e ainda frios, dançaram sobre meus olhos quando abri uma fresta da cortina naquela manhã. Era cedo, me lembro bem, e estava muito frio. Apesar do céu azul e do brilho despreocupado do sol. Eu permaneci ali, parada diante da grande janela. Sentindo apenas. Pensando apenas. Tentando apenas conter as lágrimas. Tentando apenas barrar os sentimentos e emoções. Ignorando apenas a luz do sorriso dele. Sorriso, agora, impossível de rever. Sorriso, agora, impossível de contemplar. Ele havia partido. Assim para sempre, para outra vida, para outro mundo. E naquele dia faria um mês. Um mês do terrível acontecimento. Um mês de vazio e solidão e dor e desespero. Ainda não fazia sentido para mim - e talvez nunca faça. Eu realmente não acreditava que ele teria coragem. Achava que meu amor seria suficiente, que o faria desistir. Não fez. Foi encontrado junto a seu corpo sem vida uma rosa branca e uma carta endereçada a mim. "Adeus meu amor, me perdoe, mais existem horas em que o amor somente, não basta." Chorei. Chorei mares de lágrimas salgadas de amargas. E naquela manhã eu soube que elas ainda não haviam secado. E mais uma vez, chorei. Parada ali, com o frio a me anestesiar eu chorei mais uma vez. O dia estava calmo e contrastava com a nebulosidade dentro de mim. Escuro como tempestade. Não sei por quanto tempo fiquei ali. Imóvel. Com o rosto repleto de sal e água, que formavam meu mais novo oceano. Quando finalmente consegui me mover, fui em direção a cama e enfim percebi. A forte presença dele a me abraçar, depois os lábios a me beijar e por fim a rosa branca. Ali, quieta. Representando o fim e retirando as possibilidades de um começo. Sobre a cama, estava a rosa branca. A primeira de outras que inesplicavelmente surgiriam. E as quais meu coração recém emendado quebrariam. Ele se for e eu senti o adeus. No fim de tudo percebi que não haviam mais forças e me afoguei no imenso oceano de lágrimas. Olhei o céu, a cortina recém aberta, os raios refletidos - agora amarelos e quentes - foi só o que eu vi. Porque depois daquele dia, não suportei mais. Enlouqueci.

sábado, 10 de abril de 2010

Pontofinal


-Esse amor precisava de tempo. Tempo para descobrir se realmente era amor. Tempo para aprender a gostar. Tempo para aprender a amar. Tempo para dormir em seus braços em uma noite fria. Não faço drama, não me desespero. Sei que o que faltou foi tempo. Não tenho certeza de nada, não sei se com o passar dos dias você se apaixonaria por mim. Mais sei que com os passar dos dias eu me apaixonei por você. De um jeito tão repentino. Tão logo. Tão já. Foi um cruzamento de olhares, uma troca de palavras, um sorriso. Foi em um dia chuvoso, em uma mesa em algum lugar, cheio de algumas pessoas. E enquanto todas falavam ao mesmo tempo era você que eu ouvia. E quando todos se calavam era para seus olhos que eu olhava. Tempo. Foi o que faltou. Todos os amores precisam dele. Para crescer, para descobrir se realmente era amor. Se realmente foi amor. Hoje eu, de verdade, não sei definir. Hoje, eu olho para trás, para os caminhos diferentes que tomei, e percebo que talvez possa ter confundido tudo. Não sei. E talvez nunca saberei. Eu sei que faltou tempo, sei que faltou muito tempo. Você poderia ter tido mais tempo para olhar em meus olhos de descobrir por você mesmo. Ou não. Você poderia ter tido mais tempo para sentir o mesmo. Ou não. Ficar aqui pensando no que aconteceria "se" não vai mudar tudo o que já aconteceu. Já aconteceu. Já fui. Já foi. E agora, o destino que se encarregue de juntar ou separar, mais ainda, nós dois.

domingo, 4 de abril de 2010

Empoeirado

Isso foi escrito em janeiro desse ano. Quando eu achava que tudo estava perdido e que teria que começar de novo depois e tanto lutar. Mal sabia eu o que o destino me preparava. Mal sabia eu do dia de amanhã. Resolvi postar, estava limpando minha, hoje tudo está tão diferente.
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"-Se eu fechasse os olhos agora eu não veria nada. Não veria nada além da profunda escuridão da minha alma, nesse exato momento. E esse silêncio escuro é a pior coisa que se pode ouvir. O silêncio é cruel.
Massacrante. Quase como uma derrota. Se não, a derrota ali, estampada. Quando se ganha, há gritos, vozes, barulho,
comemorações, alegria. Quando se perde, não se tem o que falar, não se tem o que dizer, o silêncio reina. Ele e somente ele.
Um sorriso apagado, um lágrima solitária, cabeça baixa. Onde estão as respostas? Quais as perguntas certas? Porquê aconteceu de novo?
O que está errado? Não se pode ter tudo nessa vida. O que os outros conseguem são a parte que cabe a eles. E a parte que cabe a mim? Eu quero contar maravilhas.
Eu quero agradecer pela minha vitória. Eu quero louvar a um Deus que eu sei que está comigo. Mas, cadê Ele agora? Eu sei, eu aprendi sofrendo que nem tudo
o que quero é bom para mim, mas, eu queria tanto escolher. No único momento que eu acreditava que não iria falhar, ali estava disfarçado de chão, o precipício. E qual o
motivo de me confundir agora? Eu quero acreditar que foi temporário, que semana que vem a história será outra. Mas, e a confiança? O que fazer com essa espera? E se for precipício novamente?
Tantas perguntas. E eu acahava que tinha as respostas. Eu achava que esse ano que se foi, era ano das respostas. Mentira. Como sempre, é o ano em que mudam-se as perguntas. Vou ter que responder novamente.
E agora, o que fazer? Continuar acreditando mesmo depois de mais um tapa na cara. Fácil. Eu sempre fiz isso mesmo. O problema agora é que minhas forças já não bastam. O problema agora é que eu já sofri de mais nessa vida.
A pior derrota é aquela que se perde, depois de considera-la ganha. E quem foi que me disse que estava ganha? Eu e minha prentenção enorme. Só que se eu não acreditasse, o que seria?

É difícil. Ainda mais ouvindo todo esse silêncio que paira quando a derrota está de frente. Olhos nos olhos agora. Nada mais importa.
Nada mais faz sentido. Nada mais interessa. O que interessa mesmo é o que vai acontecer amanhã. Depois de mais um longa espera. E eu já não quero esperar mais."
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Isso só prova o quanto temos que ter paciência. Aceitar aquilo que vier com tranquilidade sabendo que é apenas temporário. Achei interessante postar isso aqui por contrastar tanto com o momento que vivo agora. Isso foi escrito em 22 de janeiro de 2010.