segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Foi assim que sonhei.

- A vida era branca. Era somente isso que podia afirmar naquele momento. A vida era um mar infinito e branco. Parecia a primeira vez que abria os olhos. Parecia a primeira vez que via o mundo. Parecia. Mas alguma coisa dentro dela, dizia que não era. Dizia que já havia vivido por aqui, que já tivera um nome, que já tivera uma razão, um motivo para abrir os olhos. Só que achava, agora, que tudo não passava de um sonho. E que agora, essa vida toda branca era nova e desconhecida. Quando se acostumou aos poucos com a luz e conseguiu abrir  melhor os olhos, percebeu que havia alguém ali, junto dela. Um moço. Quebrando a brancura inquestionável do local, havia um moço sentado em uma confortável poltrona ao canto, dormindo. Ela percebeu que ele respirava lentamente, calmo, muito tranquilo em repouso. Ficou olhando para ele durante uns minutos. Se perguntando o que estaria fazendo ali, presente em sua vida nova e branca. Será que ela o conhecia? Impossível, nunca estivera neste lugar antes. Fechou os olhos novamente com força, fazendo estrelinhas brilhantes aparecerem sob suas pálpebras, e os abriu. O moço ainda continuava ali, o quarto ainda continuava branco e silencioso. Não gostava desse silencio. Pensou que alguém poderia aparecer, lhe dizer o que estava acontecendo, lhe apresentar a esta nova vida. Mas ninguém vinha. Somente o moço sentado na poltrona, que dormia. Parou para observa-lo. Dormia. Respirava lentamente. Vestia um jeans escuro, uma camiseta clara, um casaco. Ao lado, no ombro da poltrona, um avental branco. Sobre a mesinha pequena, chaves, carteira, caderno, um embrulho de papel. Suas mãos repousavam em seu peito. Seus cabelos castanhos quase cobriam os olhos fechados. Aparentava cansaço, com profundas marcas de olheiras. Mas dormia extremamente tranquilo. Passado nisso alguns longos minutos, ela decidiu fazer algum barulho, quem sabe o acordaria, e assim pediria explicações sobre esse lugar, esse dia, esse excesso de branco. Se mexeu na cama, nada. Sentou e arrumou os lençóis, nada. Balançou o corpo fazendo as rodinhas da cama bateram no chão, ele se sobressaltou. Insistiu no movimento, ele finalmente abriu os olhos. Devagar num primeiro momento, se acostumando com a claridade num segundo momento. Quando se deu conta do que o tinha acordado. E ela pode ver a surpresa e a incredulidade nos olhos dele. Olhos simples, profundos. E quando os dois olhares se encontraram, tudo voltou. Ela ouviu o barulho do carro batendo, os vidros se estilhaçando. Os gritos. As luzes vermelhas, as sirenes. Ele de branco segurando sua mão. Ele ao seu lado prometendo que não iria doer nada. Vultos. Vultos. Vultos. Ele também num vulto, gritando comandos. Dizendo a ela que não iria doer nada. E a escuridão completa. Quando ela se deu conta, de tudo, viu que ele sempre esteve ali, dormindo naquela poltrona ao seu lado. Quando ele se deu conta, percebeu que sua vida havia voltado a fazer sentido. Quando ele se levantou, foi um segundo que o separou do abraço dela. Quando eles finalmente se deram conta, estavam chorando o milagre que havia acontecido. E ele esticou a mão até a mesinha pegando o embrulho de papel e entregou a ela. Ela abriu com delicadeza, percebendo que havia uma única coisa ali dentro. O botão de uma rosa branca. Um presente de boas vindas a sua nova vida.

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