sábado, 1 de dezembro de 2012

Fênix

-Os olhos no espelho revelavam toda dor e desespero de um coração ao gritos. Nunca tinha sentido ódio de ninguém, nunca tinha sentido tanta raiva na vida. E aprendeu, naquele momento em frente ao espelho vendo seus olhos vermelhos, que a raiva e o ódio consomem como as chamas de um drástico incêndio. E não disso que se tratava? Um grande, volumoso e implacável incêndio. E mais do que nunca, desejou que aquilo não se apagasse, que aquilo permanecesse, por mais que consumisse ela inteira. Era isso que queria sentir. Era que isso que precisava sentir para seguir em frente. Deixar queimar.

Encarou novamente seus próprios olhos vermelhos no pequeno espelho. Não estavam vermelhos devido a lágrimas. Era puro desespero. Um desespero que latejava alto nos ouvidos. Um desespero que sussurrava a tons baisíssimos e constantes pedindo que aquilo, que aquele fogo nunca se apagasse. Afinal, não tinha sofrido pouco. Não tinha dado a vida, e a alma durante todo aquele tempo para esse final marcado por grosserias. A sua vontade era de falar, bater, ensinar uma lição, humilhar aquela que tinha lhe feito isso tudo. E toda vez que lembrava seu nome, as chamas em seu coração lambiam cada vez mais quentes seu interior. Vingança. "Dar o troco". Sentir na pele. Não deixar barato. Pagar com a mesma moeda. "Olho por olho, dente por dente. Não eram isso que diziam. E ela ia fazer valer.

Encarou mais fixamento os olhos vermelhos no reflexo do espelho, e apesar de ter acabado de sair do banho, se sentia com cada vez mais e mais calor. Forçou ela mesma e observar fundo dentro dos seus olhos. Não havia mais nada. Não havia mais esperança. Havia desespero, raiva e dor. E tristeza. Foi isso que a fez parar. Relaxou os músculos. Encarou novamente seus olhos castanhos. Não, não eram dela aqueles olhos. E contemplando fundo o interior dos olhos e da alma, percebeu que nada disso valeria a pena e o esforço. Algumas pessoas devem colher o que plantam ao longo da vida. De forma natural. E não de forma arquitetada. O que vem volta. A vida é roda-gigante. Bumerangue.

Encarou pela última vez os olhos vermelhos. Fechou com força. Os ouvidos zunindo. Os sons das chamas internas aumentando a cada nova batida do coração. Os olhos queimando por detrás das pálpebras. O calor só aumentava. Mas, quando abriu-os novamente. Um onda de alívio percorreu seu corpo. E a primeira lágrima escorreu na tentativa de apagar todo o incêndio.

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