sábado, 17 de novembro de 2012

Inverso

-Agora, de olhos secos. Agora, sem lágrimas. Agora, de cabeça erguida. Consigo ter uma leve visão do vale que surge abaixo dos meus pés. Agora que a tempestade já é passada, e que as nuvens escuras começam a ir embora, posso finalmente fazer planos. A sombra de tudo isso ainda me persegue. Pensamentos ociosos ainda são perigosos. Mas, os olhos firmes. E o processo de reparo já se iniciou. Nada dura para sempre. Nada. E depois de todo furacão há calmaria. Vejo as trilhas surgindo, os caminhos se abrindo e toda a incerteza que isso gerou nos antigos e consolidados planos. O caminho está a frente. E agora posso ver. Daqui de cima dessa montanha vejo o vale lá embaixo. Daqui de cima dessa montanha vejo o quanto a subida até aqui foi árdua. Daqui de cima dessa montanha pude enfrentar a passada tempestade de forma mais firme. Os estragos não foram muitos. Não cai. Não fui jogada daqui de cima pelos ventos. Não pedi para descer. Recebi aquilo que me veio de peito aberto e senti a dor de tudo isso sabendo que um dia passaria. Não passou. Mas os olhos enxutos e secos me trazem a certeza de meu próximo passo. Relutei contra ele. Permaneci quieta e reflexiva. Até que os céus começaram a se abrir, as nuvens começaram a ir embora e os caminhos começaram a aparecer. Não aqui em cima, lá embaixo, no vale. O jeito é ir até lá. Vou descer. Vou explorar o vale. Vou descer a montanha. Creio que a dificuldade é maior. Deixar o topo para trás. Deixar a linda vista para trás. Mas lá em baixo deve haver flores também. E um horizonte. Esperarei o vento forte passar. Quando a noite chegar, estarei lá embaixo.

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