segunda-feira, 3 de maio de 2010

Largado


-Abri meus olhos e percebei. Olhei para trás e entendi. Entendi que para seguir adiante era preciso me livrar da bagagem antiga, que não era tão antiga assim. Eu estava aqui, mais presa a tudo aquilo que deixei por lá. Eu estava aqui, mais minha mente pensava e queria estar lá. Foi quando pesou de mais. Foi quando machucou de mais. Foi quando o espaço faltou que entendi. Percebi e entendi que não deveria carregar mais comigo tudo o que era de lá. Percebi e entendi que deveria me livrar de tudo. Abrir mão de sentimentos, abrir não de pessoas, abrir mão de tudo o que trazia comigo e era falso ou ilusório. O coração precisou apertar para eu entender. A minha mente precisou enloquecer para eu entender. Minha boca precisou gritar de desespero para eu entender. Meus olhos precisaram libertar em forma de lágrimas a falta de espaço dentro de mim. E transbordou. E eu arranquei parte por parte daquilo que estava pesado. Daquilo que apertava. Daquilo que me consumia. Como num redemoinho, uma ventania, uma tempestade. Rápido e dolorido. Mas eficaz. Tudo o que foi deixado para trás era necessário ser deixado para trás. E nada ficou comigo. Cortei os laços que me preendiam ao chão. Cortei os cordões. Sem o peso da força do antigo eu finalmente pude levantar. Alívio. Leveza. Sem as amarras que eu mesma coloquei finalmente pude perceber que era preciso. Era preciso apesar de sofrido. Era preciso. Afinal, não há como voar, se for pesado de mais. Só falta agora encher os balões.

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"Tem hora que é melhor esquecer..."
Bem acertada mesmo essa frase. Bem acertada.

4 comentários:

  1. Existem momentos pra tudo...
    Lindo texto!!!
    Amei!!!

    Bjs

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  2. Pra encher os balões não basta ser sozinho...
    para encher os balões é preciso mais do que fôlego
    é preciso paz
    é preciso gás
    é preciso tempo e o tempo precioso as vezes nos pressiona...
    é impreciso que o tempo de cada balão que dure o teu medo que seleciona...

    =)

    saudade do teu blog!
    agora matei-a com vigor e explendor!

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  3. Ai com é bom tirar o peso e ficar leve!
    adorei o texto,

    bjo ;)

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  4. Será que sou parte desse peso deixado para trás, ou sou um desses balões a encher-se?

    Talvez seja os dois, muito provavelmente sim. Sempre que abandono o passado mais pesado das costas sinto que parte de mim mesmo também se esvai, não com o alívio de algo ruim de que se livrar, não com o pesar de algo bom que se perde, apenas com a serenidade de um passado que já se passou, e que se deita sob a areia e o pó, sob as plantas que crescem e sob os passos de quem anda.

    Você também sente isso, que parte desse peso era também você, ou eu?

    O passado trouxe muitas lições, muita experiência construída, sorrisos e lágrimas, amores e dor. O que tinha para ser aprendido já o foi, o que tinha que ser vivido também. Talvez mesmo ele nem exista, ou talvez ainda não exista. Talvez seja parte do futuro, ou ainda apenas uma ilusão.

    Quem vive a curva que ainda não chegou, ignora a beleza e o mistério da paisagem ao seu redor; quem anda olhando para trás, além de perder a dádiva da estrada, tropeça nas pedras que não vê. Não colecione pegadas, dê-as todas ao vento, para que ele possa transformá-las em poeira.

    Poeira, essa pequena sorrateira que anda pelos cantos das paredes, que rodopia nos menores movimentos do ar pela casa, que brilha dourada pelos raios de sol que passam pela janela aberta no final da tarde, naqueles momentos silenciosos e confortáveis, poeira que finalmente deita e se esparrama pelo piso e pelo carpete e fica alí em camadas a crescer com o tempo que passa despercebido.

    Poeira, poeira varrida, abrindo espaço para o novo.

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