domingo, 23 de maio de 2010

Longe e livre


-Outros céus agora o continham. Olhava para outras estrelas e caminhava por outras ruas. Porém o coração era o mesmo. Os desejos e sonhos também. Sentado naquele banco da praça, sorria feliz e satisfeito. Satisfeito com a aventura que se encerrava. Havia ganhado o mundo. Percorrido países. Sentido o calor e o frio de outros ares. E sorria satisfeito. A liberdade o fascinava. O desconhecido também. Olhou para baixo e viu a sua mochila, repousando tranquila a seus pés. Companheira de viagem. Confidente. Amiga. Junto com ela, ele havia sido garçom na França, depois vendedor na Alemanha, havia trabalhado num supermercado em Londres e vendido lembranças e artesanato pra turistas nas ilhas do pacífico. Havia caminhado por ruas desertas e frias. Dormido em barracões e colchões duros e furados. Descoberto lugares novos e encantadores. Subido montanhas. Corrido por campos. Havia visto a beleza do pôr-do-sol em diversos céus, diversas vezes diferentes. E não tinha dúvida que mais o esperava. Sentado no banco daquela praça, com o frio cortante a congelar seu rosto, ele teve certeza de que aprendera muito. O, antes espírito indomável, estava calmo. O desejo por aventura pedia, finalmente, um descanso. Dois anos fora, e agora ele sentia que era hora de voltar. Sim, ele sabia que mais o esperava. Só que era hora de uma pausa. E ele voltaria. Havia aprendido durante a viagem a ouvir seu coração e obedecer o que sentia. E sentia uma vontade enorme de voltar. Sorriu solitário lembrando do calor do sol de seu país. E se encolheu mais no banco para se proteger do vento gelado. Olhou para a enorme cidade iluminada, claro que sentiria saudades, só que ele voltaria. Levantou do banco e se esticou. Fazendo os ossos e músculos estalarem. Era hora de trabalhar, ganhar dinheiro para mais uma passagem. Dessa vez rumo a sua casa. Seu lar. Seu país.

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Ganhei um selinho! Agradeço e muito! Adorei!
Preciso responder algumas perguntas, e indicar para mais 9 blogs. Vamos lá!

-Porque você acha que recebeu esse selinho?
Eu tento fazer do blog o melhor que posso, mostrar aqui algumas das coisas que se passam por minha mente e coração, e as vezes algumas de minhas percepções são comuns a muita gente, por isso as pessoas se identificam.

-Na sua opinião, qual texto do seu blog é merecedor de um prêmio?
Eu gosto de tantos, mais fiz uma enquete outro dia e os leitores escolheram "Dias de chuva" e eu realmente concordo.

-Do blog que te indicou, o que mais te agrada? Ele mereceria o blog de ouro?
Sim, mereceria! Eu gosto do jeito como ela escreve poesia tão bem! Eu mesmo não conseguiria!

Indicados!
http://nanaviaja.blogspot.com/ -- Na estrada
http://crossmaker.blogspot.com/-- Luminaire
http://entremagiaerealidade.blogspot.com/ -- Feche a porta, mude o disco, limpe a casa
http://coracaodegasneon.blogspot.com/ -- Que seja doce
http://pedacosdeumapimenta.blogspot.com/ -- Tudo aquilo que me compõe
http://debie-ramos.blogspot.com/ -- ensina-me a voar
http://sintoniarara.blogspot.com/ -- De todos nós, e nós todos
http://mariischettini.blogspot.com/ -- A escuridão nem sempre equivale ao mal...
http://contemplarthais.blogspot.com/ -- Aquela que deve ser contemplada

Selo:

terça-feira, 18 de maio de 2010

Enfim, adeus


Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto dela. Antes mesmo de poder conter.

-Por quê? - Perguntou

-Vivemos em mundos diferentes agora. Somente isso.

As palavras dele não pareciam ensaiadas. Pelo contrário. Possuiam uma estranha convicção de certeza inabalável. E tranquilidade. Os olhos eram calmos. E secos. Os dela já molhados estavam vidrados nas palavras e no seu significado, talvez, oculto. O desespero cedeu lugar para a angustia. E posteriormente a dor de mais uma despedida definitiva. Justo ela não sabia escolher as palavras para aquele momento. Olhou para ele.

-Eu somente não acredito que possa haver qualquer tipo de sentimento a distância.

Foi o que ele disse. Depois sorriu. O mais irônico dos sorrisos e caminhou para a porta. Ela estava ali. Sem reação. Forçando as conecções nervosas do seu corpo a funcionarem com coerência.

-Espere! - Conseguiu dizer.

Ele parou na eminência de abrir a porta. Com a mão na maçaneta, e se virou lentamente. Quase como se o tempo estivesse aos poucos se congelando. Ou quase como se ele tivesse todo o tempo do mundo para fazer o que quisesse.

-Não deve haver mais nada para ser dito. Não há mais explicações para serem dadas. Não há mais a que recorrer. É somente isso. E eu já estou indo embora.

Mais uma lágrima solitária escorreu pelo rosto dela. Início, quem sabe, de um ocenao próprio que logo se formaria. Balançou afirmativamente a cabeça. Ela sabia que não havia mais "porém" ou "por que". No entando sentia falta de algumas explicações, somente porque mais algumas explicações o manteriam ali durante alguns minutos a mais. O tempo havia acabado. Deu por si quando ouvi o clique metálico da porta se fechando. Vazio. A última lágrima solitária rolou rosto abaixo. As próximas viriam acompanhadas.

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Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência. Mas, dizem que a arte imita a vida. Tirem suas conclusões. Usei nesse texto algumas frases de um amigo meu. Ele me inspira. E eu nem mesmo sei porque. Dedico a ele esse texto.

domingo, 16 de maio de 2010

Momentos


-"e cada momento autêntico que você viver será lembrado como único..."


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Um amigo meu me disse isso outro dia. Achei tão marcante que acabei salvando aqui somente essa frase. Peço os direitos para ele. Agradeço a ele qualquer tipo de ajuda que ele tem me dado. Agradeço a ele por ter sido uma boa companhia. A gente se conhece somente por palavras. Espero que isso um dia mude.

http://crossmaker.blogspot.com/
Obrigada Luís!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Tente entender


-Amor é esse sentimento que aperta. Esse sentimento de entrega. Esse sentimento inesplicável, mas que possui tantas definições. Amor é doença, sem querer cura. É dor, sem querer remédio. É melancolia quando se está sozinho. E abraço quando se está junto. Amor é aquele frio na barriga irritante. Aquele desespero sufocante. Aquela fisgada no coração quando não se espera. Amor é vítima. Amor é cumplice. Amor é testemunha. Amor é assassino. Amor mata. Mas de amor também se vive. Amor é um sorriso doce. E o amargo de um abandono. Amor é ligação perdida. Amor é voz falante quando há encontro. E silêncio quando há partida. Amor pede amor. Amor é molhado quando há lágrimas. E seco quando há desertos. Amor é grito. Choro. Clamor. Ardor. Amor machuca. Amor consola. Amor abraça. Amor segura. Mas também solta. Larga. Perdido no vento de um inesperado fim. Amor ampara. Amor admira. Mas também recusa. Odeia. Existe amor para um. Para dois. Para três. Amor compartilha. Amor é tudo isso. Ou nada disso. Amor é permitir ir, sem esperar voltar. Só que se voltar, realmente é amor. Amor tem explicação. Amor também é inesplicável. Amor é estranho. Pega-nos de surpresa. Arrebata. E se vai. Amor não é entender. Amor é sentir. Sentir principalmente que amor é passageiro. Por mais que tenha sido infinito enquanto durou. Amor é aceitar esse paradoxo de definições em paz.

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-Não estava em meus planos esse post. Estava em meus planos outro texto. Só que quem manda em mim são as palavras e se elas quiseram assim... . Não. Não estou loucamente apaixonada. Isso é somente fruto de um trabalho antigo que tenho tido em definir o indefinivel. Talvez tenha somente piorado a situação. Talvez não. Quem sabe.

domingo, 9 de maio de 2010

Falando de você


Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(Carlos Drummond de Andrade)

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-Eu acordei esta manhã recitando a primeira estrofe desse poema. Incrível como fazia muito tempo que não pensava nele, apesar de eu considerar um dos mais bonitos e favoritos. A noite de ontem, apesar de boa, teve um toque e melancolia e saudosismo. De tudo que ficou foram as lembranças já amareladas pelo tempo, e esse poema. Diz tudo. Explica tudo. É somente sentir.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

De olhos fechados...


Araraquara, 6 de maio de 2010
Meu querido...

Mais uma vez te escrevo. Palavras, mais uma vez, para expressar tudo aquilo que os lábios não dizem. Eu estou voltando meu amor. Eu estou voltando para casa. Não é permanente. Não é para sempre. Mas depois de tanto tempo longe, eu estou voltando. A estrada é longa, e os quilometros fazem meu coração bater mais depressa a cada nova indicação de proximidade. E o pensamente em você é tudo. A vida tem sido tranquila, a adaptação também. Os dias aqui são ensolarados e cada fim de tarde me mostra o recomeço de uma nova vida. Minha nova vida. Tudo mudou. Espero que a cor dos seus olhos ainda continue a mesma. Ah...seus olhos verdes! Aqueles olhos verdes! A novidade de cada expressão clara e nítida. O sentimento de sua alma transcrito em cada novo olhar. Uma verdadeira janela. Eu nunca deixei de pensar e de lembrar de você, meu querido. Você está ali presente, em cada sala, em cada comodo, em cada canto dessa nova vida minha. E seus olhos me acompanham onde quer que eu vá. Eu sei que sim. E não existe nada que não me lembre você. Que não me lembre como seus olhos reagiriam a cada novidade. Eu sei que foi eu quem quis o fim. E não deveria ser diferente. Para que prender você a mim? Só que sei também que o amor não acabou. Que meus lábios ainda querem os seus. Que meus braços ainda querem seus abraços. Que não haverá sorriso melhor que o seu quando te reencontrar. E sei, ou pelo menos espero, que você também se sinta assim. Eu nunca quis deixar totalmente para trás esse amor. E para isso, levei dentro de mim o brilho de seus olhos verdes. E foram eles que me fizeram continuar a cada dificuldade, a cada obstáculo e a cada dor de saudade. Seus olhos! São eles que me lembram constantemente o porque dessas borboletas no estômago. O porque desse desespero de finalmente retornar. E o possível verdadeiro motivo do retorno, mesmo escondido por trás de outros. Seus olhos verdes. Saudade de seus olhos verdes. Tão seus, só que tão parte de mim. Eu voltei. Eu estou de volta. E desejo te encontrar, assim, sorrindo com os olhos para mim. Não há mais o que ser dito. Tudo será explicado no exato momento em que meus olhos encontrarem os seus. Não haverá melhor explicação que essa. Estou mais perto do que estive em meses. O resto, será quando te encontrar.

Até a chegada.
Carolina

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Largado


-Abri meus olhos e percebei. Olhei para trás e entendi. Entendi que para seguir adiante era preciso me livrar da bagagem antiga, que não era tão antiga assim. Eu estava aqui, mais presa a tudo aquilo que deixei por lá. Eu estava aqui, mais minha mente pensava e queria estar lá. Foi quando pesou de mais. Foi quando machucou de mais. Foi quando o espaço faltou que entendi. Percebi e entendi que não deveria carregar mais comigo tudo o que era de lá. Percebi e entendi que deveria me livrar de tudo. Abrir mão de sentimentos, abrir não de pessoas, abrir mão de tudo o que trazia comigo e era falso ou ilusório. O coração precisou apertar para eu entender. A minha mente precisou enloquecer para eu entender. Minha boca precisou gritar de desespero para eu entender. Meus olhos precisaram libertar em forma de lágrimas a falta de espaço dentro de mim. E transbordou. E eu arranquei parte por parte daquilo que estava pesado. Daquilo que apertava. Daquilo que me consumia. Como num redemoinho, uma ventania, uma tempestade. Rápido e dolorido. Mas eficaz. Tudo o que foi deixado para trás era necessário ser deixado para trás. E nada ficou comigo. Cortei os laços que me preendiam ao chão. Cortei os cordões. Sem o peso da força do antigo eu finalmente pude levantar. Alívio. Leveza. Sem as amarras que eu mesma coloquei finalmente pude perceber que era preciso. Era preciso apesar de sofrido. Era preciso. Afinal, não há como voar, se for pesado de mais. Só falta agora encher os balões.

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"Tem hora que é melhor esquecer..."
Bem acertada mesmo essa frase. Bem acertada.