- Já faz um tempo que estou imersa em meus pensamentos sobre esse assunto. Eu sei que ainda não acabou. Mas já sei que muita coisa mudou. Sim, estou falando dessa viagem que fiz. Dessa viagem que estou vivendo. Na verdade, já fazem 6 meses. Com uma pandemia no meio. Se eu imaginava? Não. Ninguém imaginava. Como poderíamos. Mas não, não estou levando isso em consideração para escrever aqui hoje. Na verdade estou levando em consideração somente os pensamentos que estão em minha mente nesse momento e que já são muitos. E quando eles se acumulam assim, eu preciso escreve-los. E eu sei que ainda não acabou. Mas quero falar hoje do que já aprendi. Do que já vivi. Estar assim longe de tudo o que chamo de rotina, já me fez ver algumas coisas e pensar sobre algumas outras. Me percebi mais. Me senti mais. Passei mais tempo em silêncio olhando e aprendendo. Observando. Percebendo. Na verdade, eu passo muito tempo em silêncio. Em minhas horas vagas, andando e pensando. Estar assim tanto tempo comigo mesma me fez sentir mais. Sentir diferente. Sentir de um jeito que a rotina do dia a dia já não me permitia. Tudo isso me tirou de uma zona de conforto a tempos estabelecia e construída. Uma zona de conforto que, confesso, não queria sair. Ou não achava que seria tão difícil sair. Não era ruim, era somente, confortável. Mas sair assim, mudar assim, ir para tão longe assim trás tantas coisas novas. E muda muita coisa que já estava ali. Acostumado. E passei a sentir tudo diferente. Os sentimentos antigos são mais intensos. Eu eu passei a amar mais. E eu passei a sentir mais saudades. Na verdade, eu passei a sentir mais qualquer coisa. Escutar uma música tem outro significado. Andar pelos caminhos tem outro significado. Sentir o vento, a chuva, os dias passando, tem outro significado. Tudo é novo e antigo ao mesmo tempo. E as sensações são diferentes e são as mesmas. São as antigas sensações intensificadas. Melhoradas. Novas, talvez. Ainda não acabou mas já consigo entender que não posso mais voltar a ser mesma. Ainda não acabou, mas já sei que as mudanças que esse tipo de experiência trás são inevitáveis. Esse tipo de coisa muda internamente tanta coisa. Faz um furacão. Uma bagunça. Deixa tudo a flor da pele. Me fez dar valor a pequenas coisas. Me fez dar valor a coisas antigas. A lembranças, sentimentos, reflexões. Um dia me disseram que a maior mudança "depois dessa viagem" seria em mim. E eu não soube o que isso queria dizer. Agora, mesmo antes de acabar, eu sei. Eu talvez esteja ficando um tanto repetitiva aqui. Porque realmente é difícil de explicar. Nada mudou, mas tudo mudou. Eu ainda sou a mesma. Mas não sou mais. E eu amo ainda as mesmas coisas, pessoas, momentos. Mas de um forma tão diferente. Mas de um forma tão igual. Talvez seja um pouco difícil de escrever. O que eu quero dizer, é que é necessário esse tipo de viagem. É necessário sentir esse choque. Esse baque. Essa mudança. E o que eu quero dizer é que, se houver a oportunidade, vá. Saia. Viaje. Não perca. Não tenha medo. Ou tenha, mas vá assim mesmo. A vida dentro da gente precisa se renovar. O nosso universo pessoal precisa se abrir. Os horizontes aumentar. E você vai saber que pode mais. Que é mais forte. Que consegue mais. E quando eu fecho os olhos, sei que continuo a mesma. E quanto fecho os olhos sei que estou diferente. Enfim, pode ter ficado difícil esse texto cheio de contradições. Mas é difícil explicar o que no momento, só sei sentir.
sábado, 25 de julho de 2020
sábado, 4 de julho de 2020
Pequenas sensações
- Eu me lembro de entrar no ônibus e ir me sentar no último banco da fileira de trás. Eu me lembro que o calor era sufocante e eu não conhecia a cidade. Tentava me lembrar das explicações que tinham me dado. Onde deveria descer, para deveria onde andar, como contar as ruas que eram mais conhecidas por números ao invés de nomes. Repetia algumas dessas informações em minha mente, mas em questão de minutos já tinha esquecido tudo. Me perdia olhando a cidade pela janela e ouvindo qualquer música que tocava em meu mp3. O caminho até minha casa era um pouco longo. Uma parte de ônibus e uma parte do caminho a pé. Envolvida em meus pensamentos, observava as pessoas entrar e sair do ônibus em suas já tão conhecidas rotinas. E eu, primeira vez em quase tudo naquela semana, tentava fingir que estava acostumada a tudo aquilo, também. Tudo era tão diferente de minha cidade natal. Não reconhecia as ruas, nem as avenidas, nem os lugares que precisava ir. Não sabia os caminhos e os pontos de referência, mas sabia que era questão de tempo aprender. Na verdade, o desejo de sair de casa, morar em outra cidade, fazer faculdade fora e não morar mais com os pais era tanto, que quase não reclamava e quase não ligava para as pequenas dificuldades do dia a dia. Eu tinha na verdade esse desejo de me provar. E estava indo. Entretida com meus pensamentos e com as ruas e avenidas, imaginei nessa hora que havia perdido o ponto em que deveria descer. Tentei reconhecer algo no caminho, mas não foi possível. Nessa época nossos celulares não eram tão bons para indicar caminhos ou rotas, na verdade, o meu era daqueles modelos bem simples. Talvez só fizesse ligação. Neste susto de perder o ponto de descida, apertei o potão de parada para o próximo ponto. Iria ter que descobrir. Desci. Olhei ao redor. Nada além de casas e mais casas. Não vi de imediato nenhum lugar em que pudesse pedir informações. Enfim, fui caminhando até o final da rua. Fora do ônibus uma brisa leve soprava e amenizava um pouco o calor. Tanto que caminhar se tornou agradável. E eu me senti um tanto feliz e livre. Um quarteirão, dois, três. Encontrei um mercearia. Passei na frente. Ensaiei entrar. Ensaiei a frase que iria dizer. Pensei no ponto de referência que iria usar. Entrei. No balcão, um senhor idoso, de barba e cabelos brancos. Olhos simpáticos. Usava uma boina. Tinha uma caneta na orelha.
- Boa tarde, moça, está precisando de algo?
- Boa tarde, eu gostaria de uma informação, uhm...preciso ir até e Faculdade de Odontologia no centro. Como faço?
Ele olhou para mim, deu um sorriso daqueles que entendeu tudo e que viu além do que simplesmente pedi.
- Vou te mostrar - respondeu.
Saiu para fora, na calçada. Eu sai atrás. Ele apontou pelo caminho que tinha vindo.
- Siga em frente por essa rua até o final. Vai ter um ponto de ônibus. Passe por ele, atravesse a rua e siga sempre em frente. Logo você vai avistar a Faculdade.
Terminou com um sorriso.
- Precisa de mais alguma coisa?
Eu, pega de surpresa pela gentileza e pela resposta bondosa, agradeci e segui meu caminho.
Curiosamente eu estava no caminho contrário do que deveria seguir. Andei na direção oposta, e na verdade, não tinha perdido o ponto de descida. Tinha descido antes. Eu me lembro que a caminhada até minha casa foi muito agradável. Consegui encontrar o caminho de volta e ao me aproximar de meu ponto de referência, já sabia que caminho percorrer. Ali era uma área conhecida. Me lembro de chegar em casa com uma sensação de dever cumprido. De ter conseguido resolver um desses pequenos problemas do dia a dia. Sabia que aos poucos tudo se tornaria rotina. Cotidiano. Comum. Ao deixar a mochila em cima de minha nova cama, em minha nova cidade, senti um pequeno orgulho de mim mesma. Na verdade, esse tipo de aventura era o que sempre quis. Naquela época eu não sabia, mas já estava vivendo meu sonho. Naquela época não sabia, mas a cidade da Laranja iria ser minha casa, parte de minha vida e se tornaria mais conhecida do que poderia imaginar. Naquela época, eu ainda não sabia, mas era só o começo de tudo.
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