-Havia um tempo em que os dias eram mais quentes e as noites mais claras. Havia um tempo em que tudo parecia tão distante e duro e tenso e trágico. Havia um tempo em que as horas arrastavam, em que as dúvidas eram constantes, em que os pensamentos infinitos em dias melhores eram cotidiano. Havia um tempo em que se desejava mais, em que se ansiava mais, em que se desesperava mais. Havia um tempo, assim longe de hoje, assim distante das horas de agora, em que tudo parecia um turbilhão de cores. Esse tempo passou. Assim como todos os outros tempos, idos e vindos nesse eterno vai-e-vem de sensações. Nessa eterna roda gigante. Nessa vida.
Houve um tempo, em que os sonhos eram obrigação, em que decorar respostas e suar as mãos era típico, em que o desconhecido era breu. Houve um tempo em que pensar além de alguns meses era difícil, em que planejar o futuro era impossível, e que contar as horas era rotina. Houve um tempo no qual a impaciência reinava, no qual as horas passadas pensando nas próximas horas tendiam ao infinito, no qual pousar os olhos na linha do horizonte e ter paciência era angustiante. Houve um tempo para isso, assim como houve um tempo para se ser jovem. E ser jovem era ser e viver tudo isso.
E houve também, um tempo de descreditar. De descrer. De achar que tudo que era correto estava de cabeça para baixo. E nesse tempo se descobriu que o de cabeça para baixo era o lado mais correto. Houve esse tempo, e muitos outros. Houve pessoas também. E palavras. E muitas palavras ditas, e muitos acordos desfeitos, o que é comum visto que quando se lida com pessoas, acordos são desfeitos a todo momento. Mas houve um tempo de sentir dor pelos acordos, e sentir angustia pelo que estava errado e deveria estar certo. Houve um tempo de desconcerto. Houve de tempo de ingratidão. Houve um tempo de lágrimas. Um tempo de pensar que assim, desse jeito, não poderia mais ficar. Após, sempre havia um tempo de reflexão. De luzes baixas e pouco brilhantes, de olhos fechados, de bocas caladas, de pensamentos a todo vapor, de entendimento. E houve compreensão.
Na verdade, era tempo de ser jovem. E era o tempo de sendo jovem, deixar de ser. De crescer. Mesmo quando parece que já se é alto o bastante. Porque o importante não é a altura. Então se vai. Se deixa, se esquece, se desprende e se solta. Leve, mas não livre. Solto, mas não desamparado. E surge um tempo de luz clara e brilhante, de pousar os olhos no horizonte com firmeza e garra, de acender a lanterna no breu do desconhecido e se provar.
E surge aquela paz, aquela calma azul, serena e plena. E a certeza de que realmente não se deve planejar mais do que alguns meses, de que o futuro é realmente impossível e de que nada importa do que estar por vir. Importa o que vier. Importa o que tiver. Como quiser. Como for. Como chegar. Na hora, será.
E será daquele jeito sublime e único e grande, como a grandeza dos momentos que se aguarda com calma. O que acontece antes, é preparação. O tempo que houve antes é necessário. Afinal apagar a luz é imprescindível.
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-Guardo no bolso a velha certeza de um amanhã. Somente isso vale. A certeza de um amanhã.
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