domingo, 29 de agosto de 2010
O contrário do amor
"O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.
O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.
Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.
Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.
Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto."
Martha Medeiros
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Gosto muito desse texto. E realmente, o contrário do amor é a indiferença.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Poucas palavras
"O destino é quem embaralha as cartas, mas somos nós os que jogamos."
William Shakespeare-Estava pensando nisso. Destino. Não acredito. Acredito que vamos estar sempre no lugar aonde devemos estar. Mas para isso, daremos muitas voltas. Tudo, tudo, é preparação. Nada é fixo. Destino não existe. Existe providência. Existe encontros.
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Sem mais.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Chore, meu amor
- Ah! Se essas lágrimas parassem de cair. Se esses olhos não estivessem tão vermelhos. Se esse coração afrouxasse o nó somente por um minuto. Mas, não param. Não embranquecem. Não afrouxam. Se eu pudesse voltar atrás. Se eu errasse menos. Se não pensasse somente em mim. No entanto, o tempo não regressa. Os erros não se apagam. E eu sou extremamente egoísta. Egoísmo. Me fez querer seu amor somente para mim. Me fez querer que seus olhos olhassem somente em uma direção. Me fez exigir todos os seus momentos ao meu lado. Troca de energia viciante. Toques e beijos viciantes. Obsessão. Loucura. Loucura e obsessão que foram confundidas com amor. Que eu confundi com amor. E agora, eu e minhas lágrimas, sabemos o que realmente era. E agora, eu e esse rosto molhado, sabemos que era realmente amor. Minha confusão e insegurança enterraram o sentimento verdadeiro fundo dentro de mim. E eu quis o fim do que achava ser ilusão. Não era. Você me amava enquanto eu cobrava de mais. Você me perdoava enquanto eu guardava seus minúsculos erros. E eu pedi que você fosse embora. E você simplesmente se foi. Não deveria. Não era. Não queria realmente. Ah! Se essas lágrimas fizessem uma pausa. Eu poderia tentar discar seu número mais uma vez. E tentar dizer que eu amo. Amo sim. Só que eu choro. Choro porque ontem você era meu e hoje, já não é mais. Você desistiu de mim, e eu, desisto de tentar parar de chorar.
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Isso é ficção. Pura e simples ficção.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Aquela cidade
-Sabe, eu estava pensando...
-Uhm...
-Não sei, a vida é tão complicada. Quando eu acho que tenho que seguir um caminho, aparece alguma complicação que muda tudo. Poxa...
-Não tem que ser assim, você sabe que não tem que ser assim.
-Mas ultimamente é assim que acontece. Veja, tantos planos que fiz, tantas idéias que tive, tantas coisas pelas quais já batalhei. E o que eu consegui? Nada. Nada.
-Nada. Ainda. A-I-N-D-A.
-Hunf, não quero mais esperar. A espera cansa, causa tristeza, ansieadade, incerteza.
-Relaxa, tudo bem? Relaxa?
-Não! Não relaxo! É só isso que você sabe dizer? "relaxa".
Não tem como relaxar okay? É isso, os caminhos mudaram, as respostas mudaram. Eu achava que deveria seguir por aquela estrada e aparentemente não devo mais, ou nunca deveria. Enfim, agora é pensar em outra solução, outro caminho. Outra possibilidade.
Era fim de tarde. Fim de tarde que tingia a cidade em tons de alaranjado. Ela gostava de pensar que a cidade toda era alaranjada. Achava algo de bonito nesse pensamento. Hoje, no entento, não estava achando nada bonito. Somente o mesmo céu, o mesmo calor, a mesma brisa cheia de cheios conhecidos. E o mesmo sentimento de derrota de todas as outras vezes. A simples hipótese de ouvir mais um "não" era desesperadora. Apesar de ela saber que ainda nada estava perdido. Nada.
-Olhe para mim. Eu estou aqui para você. Sempre estarei. Conseguir ou não essa oportunidade que não mudara nada no modo como gosto de você. Não adianta fazer drama frente a resultados que não são conhecidos. Fique tranquila. Pense positivo. Quando realmente a resposta chegar, ai sim desespere-se, ai sim chore, de alegria ou felicidade. E eu sei que será de felicidade. Só que, se não for, meus ombros estarão aqui. Certo?
-Certo...
Ele sempre tinha razão. Ele e a tranquilidade quase inabalável dele. Ele e os olhos sinceros e verdadeiros. Como se desesperar frente a tudo isso? Como não confiar nessas palavras? Como não sorrir? Fechou os olhos e se entregou ao abraço. Assim calmo. Assim quente. Assim acolhedor. A cidade alaranjada sorriu para ela. Como tinha sorrido por todo esse tempo. Suspirou. O amor mesmo, supera tudo.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Reina as estrelas
-Todos nós estamos sozinhos. Nascemos sozinhos. Vivemos grande parte da vida sozinhos. E morremos sozinhos. Não importa quantas pessoas cruzam nossos caminhos. Quantas pessoas deixam suas marcas em nós. Quantas pessoas permanecem com a gente durante longo, ou curto tempo. Nesse mundo, a existência é solitária. No final do dia, não importa o quanto tenha se estado acompanhado, quem enfrenta nossos medos mais internos somos nós mesmos. Quem lida com angustias inesplicavéis somos nós mesmos. Quem escuta os mais terríveis pensamentos somos nós mesmos. E quem enfrenta, cara a cara, os nossos maiores medos, somos, também, nós mesmos. Não importa o quando se compartilhe. O quanto se divida. O quando se partilhe. Existem sentimentos, pensamentos, atos, ações, devem e são encarados de maneira solitária. Ali, na frente do espelho, de frente para você mesmo. Só nós, só a nossa essência, sabe realmente o que verdadeiramente existe por dentro. É sozinho assim, e em silêncio que descobrimos. Através de camadas e camadas de pele, músculos e ossos. A existência é solitária. As escolhas somos somente nós que fazemos. A nossa vida somos somente nós que vivemos. Com objetivos solitários e as vezes egoistas. Mas, nossos. Íntimo, dentro de nós, reina a solidão. No final do dia, caminhamos sozinhos para casa. No final do dia, olhamos sozinhos para o céu. Só você, eu e as estrelas. Caladas e também, solitárias.
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Madonna já sabia disso.
"Life is a mystery, everyone must stand alone..."
E eu também já sabia. Esse texto foi escrito em 06/07/2010
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