terça-feira, 23 de abril de 2013

De mãos dadas


-Eu tenho essa saudade de tudo aquilo que ainda vou conhecer. Porque eu antecipo dentro de mim sentimentos que ainda vou sentir. Eu tenho em mim todos os sonhos do mundo e mesmo assim sinto que necessito de mais. Eu vejo meus olhos no espelho e sei que tudo através deles é antigo. E minha imagem envelheceu mesmo sem o tempo passar, nestes segundos em que mantive-os fechados. O tempo é tão longo. Os anos são tão compridos. E num segundo, num minuto, num mês tudo já se foi. Se ontem eu olhava dentro daqueles olhos, hoje eu sonho com eles. E me sento aqui a olhar o céu e as nuvens, com a brisa em meu rosto a pensar que adoro o outono. Outono que trás com ele todo esse clima de aconchego, outono que trás com ele essa saudade que agora faz morada dentro de mim. Porque eu sei que sem ela eu não viveria. E deixo o silêncio falar por mim.
E permito que a vida caminhe.
E que me leve.
Porque sei, que sou dona de mim.


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Sem sentido?
Tem muito mais de mim do que se pode imaginar.
Leia-me.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Um brinde a vida, meu amor.

-Houve um tempo, depois de passadas várias tempestades. Quando as tardes eram longas e as noites saudosas. Que eu acordava quase toda madrugada e ficava a lembrar daqueles olhos. Não, não tinha insônia, eu conseguia dormir normalmente. Somente acordava, leve e doce, na hora mais escura da noite, e  ficava mentalmente contemplando aqueles olhos. Ele, por si só, sempre foi e sempre será alguém que me encantou. Mas aqueles olhos por vezes, inúmeras vezes, me afogava em imaginação e mistério. Ele era novo, um pouco menos do que minha idade na época. Quase com  o mesmo estilo de vida que o meu. Quase com a mesma visão da vida que eu. Só que havia momentos em que eu podia ver, ao olhar fundo em seus olhos, as cicatrizes que a vida havia deixado nele. Só que eu podia sentir, ao olhar bem dentro daqueles olhos escuros a vasta experiência, a grande dor, o grande aprendizado que de maneira agradável ou não - e eu creio que não- a vida havia feito nele. Tinha momentos, que mesmo sem querer os olhos o denunciavam, e eu via claramente o quanto mais maduro do que eu ele era. Uma vez disse a ele "a vida marca as pessoas de jeitos diferentes" e nunca estive tão certo em minha vida. Uma vez eu disse a ele "a vida sempre marcará nossa caminhada" e nunca acertei tanto quanto neste momento. E ele soube o que eu quis dizer, tanto é que me olhou assim, humilde, concordando em silêncio e revelando a tamanha imensidão dos segredos que aqueles olhos revelavam. E nós tínhamos essa conexão. Pois eu sabia que tinha as mesmas marcas no olhar. E eu entendia. E admirava de uma forma tão intensa que podia ficar ali, naquele silêncio cúmplice que geralmente existia entre mim e ele, por horas conversando sem dizer uma só palavra. Eu nunca soube como a vida o havia marcado. Eu nunca perguntei. Ele nunca disse. Para mim bastava saber que havia tanto aprendizado. Para mim bastava ele sustentar meu olhar com o dele cheio de grandeza. Para mim bastava ele e seus olhos e todos seus carinhos e abraços. Muitos anos se passaram desde então. E nós compartilhamos disso por anos. Mas agora, eu preciso levantar a cada madrugada, preciso sentir meus olhos marejados de lágrimas, lágrimas essas que escorrem pelas rugas em meu rosto para me sentir compreendida por ele de uma forma incomum. Éramos cúmplices dessa vida, e sabíamos. Éramos velhos na alma com a idade de jovens. E a companhia um do outro bastava. E lembrar seus olhos é o que bastava nessas madrugadas escuras, saudosas e nem um pouco solitárias.