- Existe alguns momentos em que fecho meus olhos e imagino que beijo você.
Aquele beijo que a gente costuma ver no cinema. Nos filmes. A luz perfeita, de
um amarelo meio envelhecido de sol a ofuscar a imagem. O céu, de um azul opaco
com poucas nuvens. A trilha sonora com alguma música tocando baixo ao fundo
para depois ir subindo o volume conforme a cena avança. E eu, de olhos fechados
aqui a imaginar esse beijo. Quase posso sentir você, sua lenta aproximação. Te
observo afastar de leve uma mecha de meus cabelos que cobre parte de meu rosto,
para e em seguida percorre-lo com a ponta de seus dedos. Olhos fixos. Bocas
quase juntas. E eu de olhos fechados aqui, no silêncio de meu quarto, quase
posso sentir o seu perfume. Sinto a pele de meu rosto quase tocar o seu, e é
como se você estivesse aqui. Chego a sentir o sangue correndo nas veias. O
bater do coração. O arrepio frio que percorre em linha reta minhas costas. Nesse
momento de quase beijo o tempo para e respira fundo, e em seguida prende a
respiração. Não escuto mais a música ao fundo. Escuto o silêncio vibrar em meus
ouvidos. E nessa hora, somente posso sentir. Se fosse um filme, a luz amarelada
ofuscaria a tela. E o beijo aconteceria. E os lábios se uniriam, leve, doce,
urgente. E esse beijo, que não é de cinema e só está acontecendo em minha
mente, parece enfim, real. O toque dos lábios. O roçar da pele de seu rosto no
meu. Os corpos tão próximos agora. Minha mão em seus cabelos. Mas sei que me
encontro aqui, de olhos fechados a imaginar tudo isso. É de propósito que
demoro um pouco para abrir meus olhos. Eu demoro, e refaço a cena em minha
mente. Repito o beijo. E repito. E repito. Com um leve sorriso sonhador nos
lábios. E, de repente, como um sopro ou um breve respirar, eu abro meus olhos.
Não, você não está aqui. Você pertence aos meus pensamentos. E gosto quando te
sinto assim, tão perto de mim. Não, você não está aqui. Mas mesmo assim, eu
beijei você.
quarta-feira, 24 de junho de 2020
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